sábado, 22 de janeiro de 2011

Folga no Príncipe

Eram 6h quando despertei. Ai, pensei eu! Tenho que me despachar… Às 7h00 partiria para a cidade no carro do pessoal. Como eu sou a pontualidade em pessoa eram 6h45 e já estava junto do portão. Estive na conversa com um dos seguranças que fez noite que me contou um pouco da vida dele…eh eh… Às 7h00 em ponto chega o camião com o pessoal, sim um camião não uma carrinha. Daqueles de caixa aberta com dois bancos de madeira para o pessoal se sentar. Adorei! Para a próxima haverá um registo fotográfico do episódio. Bem, mas eu fui no banco da frente visto sermos apenas dois a deslocarmo-nos à cidade, àquela hora. No caminho fomos apanhando algumas pessoas que também iam para a cidade. Não se deve ir nada confortável lá atrás, ainda por cima a estrada é péssima…e se chover a malta molha-se…enfim, típico cenário de África!

Cheguei à cidade por volta das 7h40…tinha combinado ligar ao Hélder assim que chegasse e assim o fiz. Ainda esperei 20 minutinhos por ele e fui tirando fotos às calmas ruas da cidade de Santo António. Foi muito estranho para mim porque muitas lojas ainda se encontravam fechadas e não havia quase ninguém nas ruas, se fosse em São Tomé a rua já estava cheia de gente e a maior parte das lojas estariam abertas. Perguntei a uma senhora onde poderia tomar um cafezinho e ela disse-me que aqui era muito difícil, só encomendando. Fiquei parva a olhar para ela! Não há um único cafezinho onde se possa tomar um pequeno-almoço normal, like pão com manteiga? Finalmente chegou o Helder, subi na moto e parámos junto ao mercado numa tasca a perguntar se podiam fazer-nos um pequeno-almoço. A senhora disse para esperar só um cadinho que ela já ia fritar peixe e banana. Eu disse: não, quero um pão com manteiga e um cafezinho por favor, o meu estômago não aguenta fritos logo de manhã. Ela disse então que ia arranjar qualquer coisa para mim mas que iria demorar. Então decidimos ir a Porto Real, conhecer uma das mais importantes roças do Príncipe, enquanto ela preparava algo. O caminho para esta roça é bem bonito, pena chegar lá e deparar com ruínas aliás muito poucas. Viam-se partes do antigo hospital da roça, que estavam totalmente cobertas por trepadeiras e no quintal da roça, como o Helder o chamou, continuavam pessoas a ocupar as antigas casas dos trabalhadores. Obviamente que as casas estão muito mal conservadas mas parece que as pessoas não se importam de morar num sítio assim. Demos um passeio pelo quintal onde as crianças me pediam para tirar fotos…incrivelmente não me pediram doces nem me chamaram branca…saídos da roça, fomos directos até o tasco da Sra. Não me lembro o nome que já tinha preparado um pratinho com peixe e banana para o Helder e tinha ido comprar pão e manteiga para mim. Bem nem vão acreditar na manteiga que ela me trouxe, margarina para cozinhar “Evita”…que nojo…e não havia café para empurrar o pão…enfim, só no Príncipe…eh eh…depois deste fantástico pequeno-almoço, partimos rumo a Nova Estrela…lá vou eu visitar mais uma roça abandonada por este povo…Ainda fica a uma distância da cidade mas o caminho é tão bonito e respira-se um ar tão puro…Chegados à roça percebemos que a escola estava em funcionamento! Que bom! Imensas crianças a jogar, os meninos jogavam futebol e as meninas o jogo do elástico! As meninas vieram logo a correr pedir para eu tirar umas fotos e claro que cedi ao desejo delas. Enquanto se preparavam para fazer pose, pedi-lhes que ficassem a jogar, ficou bem mais bonita a foto! Tinham um sorriso tão bonito! Estivemos na conversa com uma das professoras que nos disse que eram 6 turmas, uma de cada ano até ao 6º ano. Teve a queixar-se que os meninos eram muito desobedientes e que na turma dela eram 38, imaginem só. Mas a turma do 5º ano tem 48, lotação esgotada como disse o professor. Parece que também frequentam esta escola, os meninos da aldeia de Abade porque lá só existe infantário. A professora também nos disse que não têm electricidade e água canalizada, o que é um pouco triste. Mas as aulas vão sendo dadas à mesma e as crianças são felizes. Depois desta maravilhosa visita à escola fomos até Abade. Mais uma estrada com buracos, pessoas a tentar reparar a mesma, subidas, ou seja, mais um kuduro…eh eh…quando se chega a abade fica-se maravilhado com a vista, primeiro passamos por uma pequena aldeia piscatória e só subindo se chega a roça. É das poucas que fica situada junto à praia. Primeiro fomos lá acima, a mansão da roça foi reabilitada por um português que fez dela uma pensão mas estava fechada. Tem um relvado enorme com imensas flores à frente e a paisagem é muito linda. Ao longe vê-se um ilhéu com forma de boné ao qual chamam Boné de Jockey e ainda o Pico Papagaio (680metros). Após esta pequena paragem, onde apetecia mesmo beber uma bitola por causa do calor, fomos até à aldeia piscatória. O Helder disse que era a aldeia que mais peixe secava e ainda enviava para São Tomé. Quanto a mim, essa secagem de peixe é horrorosa, o peixe fica ali ao sol dias e dias, invadido por moscas e outros insectos, com um cheiro insuportável. Mas as pessoas gostam e é com esse peixe que fazem o típico molho de fogo tão conhecido da ilha. Seguimos para a cidade de novo porque o Helder tinha que ir trabalhar mas antes fomos beber a tão esperada cervejinha ao D&D onde se juntaram a nós a Vilma (uma das mulheres do Helder) e o Gége (trabalhador do Bom Bom). O Gége veio de São Tomé, já tinha estado a trabalhar no ilhéu das Rolas e disse-me que não gostava muito do Principe e que estava a pensar ir embora daqui a dois meses. Concordo com ele, esta ilha é demasiado calma para quem vem de ST. Este rapaz parece um pouco aluado e gosta imenso de conhecer mulheres…eh eh…dangerous guy! Por volta das 12h30 apareceu o Ati para me fazer companhia durante o almoço na Pastelaria do Ramos (chefe de restaurante que parece filipino). Não chamaria aquele sítio de pastelaria pois não tem nem bolos, nem pão, nem café, nem Sagres…a Sra. Domingas, professora e mulher do Ramos, é bastante simpática mas não fez o molho de fogo que eu tanto ansiava provar…fiquei tão triste, mas ela prometeu fazer para mim numa próxima, tendo preparado um peixinho grelhado com arroz de ervilhas, legumes e banana frita. O Ati não quis comer então lá ataquei eu o prato. Conversámos imenso mas logo percebi que a mentalidade dele era igual à de muitos homens santomenses, o que me deixou um pouco desiludida. Homens tão possessivos e tão liberais ao mesmo tempo. Para ele, estarmos ali os dois a conversar não tinha mal mas se fosse a mulher dele com outro homem já teria. De repente começa a chover…uau…e agora? Eram quase 15h e tinha que passar no banco para buscar um papel para o Hotel. Lá fomos, à chuva, pelas calmas ruas da cidade. Não parou de chover até chegarmos ao Bom Bom e piorou quando nos estávamos a aproximar. Foi um belo banho de chuva tropical e soube muito bem. Pena ter chovido o resto da tarde, o que me impossibilitou de ir ver as tartarugas à Praia Grande. Hoje tive companhia para o jantar, o Thomas, um holandês que está cá por causa do projecto de Belomonte. Ele está a desenhar as novas casas dos habitantes da roça para que façam lá um empreendimento turístico. Perguntei-lhe se as pessoas não se opuseram à construção do empreendimento já que teriam que sair das casas onde estavam mas parece que ficaram bastante felizes pois cada família ia ter a sua própria casa e iam ter acesso a água e electricidade. O Thomas é bastante simpático e quer imenso aprender a falar português. Finalmente uma conversa um pouco mais interessante do que aquela que se tem com a maioria dos locais que só querem saber de mulheres e filhos e kizomba…eh eh…noite agradável…fui para a cama! Esqueci-me de contar que fui picada pelo “bicho do corpo” como eles dizem. É um bicho que se mete dentro da pele, não é aconselhável espremer e dói dabuso…e foi no raboooo…eh eh


A.

2 comentários:

  1. Tas feita com essa picada! Por acaso no outro dia um bicho desses tambem me picou no dedoo...tive mais sorte que tu :P belos passeios! tas a aproveitar, sim senhora! beijao*

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  2. muito bom o artigo gostei :)

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