quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Boa vida..

11/1/11
Acordei com o telemóvel a tocar. O Clemente a combinar o nosso dia de boa vida. Pois é, também temos direito a passear, viver, aproveitar o que esta terra tem de bom. Verifiquei que tinha dormido de mais, 10 horas. Levantei-me bem rápido e não é que começam a bater ao portão, voz de criança…”Máarrgáaarriiidaaaa” “Márrgáarriiidaaaaa”. Nem queria acreditar, ela não se calava. Fui lá fora. Queria vir acompanhar-me, o que aqui significa vir para a minha casa, estar comigo. Lá lhe expliquei que não dava. Fui para a cozinha preparar o farnel para levar para o passeio. Fruta-pão com molho e grão de bico. Não é que a criança não parou de gritar. Teve que ser o meu “querido” vizinho a mandá-la embora, até lhe chamou bandida e mandou-a ir para casa lavar os pratos. Ri-me muito, silenciosamente claro. Voltou a aparecer, dei-lhe 1 berro e disse para ouvir o que os mais velhos dizem. Nunca mais apareceu! Por enquanto.
Por volta das 10h30, depois de alguns percalços (o molho virou no fogareiro, o fogo subiu bem alto, estava a ver que me queimava toda, mas nem um arranhão… só isto e já me chamam “plegida”..coisa de santomense) saímos de casa na mota. Soube bem fazer aquele caminho de novo. Como São Tomé é bonito, até daquela estrada meia esburacada já sentia falta e dos solavancos do caminho. Fogo nem sei como me deixei ficar tanto tempo fechada na cidade sem sair. Eu sou é mulher de roça! No caminho ligou-nos o Osmar a dizer que vinha ter connosco! Bué fixe! Em Micolo queríamos pegar umas cervejas bem frescas para levar mas mandaram-nos a Fernão Dias. Lá fomos indo no leve leve, aproveitando para me deliciar com o lindo mar de tons de esmeralda. Finalmente conheci Fernão Dias. A curiosidade era muito devido à relevância que teve na história de São Tomé. À entrada há um marco/estátua representando os acontecimentos marcantes deste local. Foi uma espécie de campo de concentração para onde levaram os presos depois da Revolta de Batepá de 1953. Pessoas inocentes, pessoas cultas que foram maltratadas, abusadas, violentadas. Muito triste. Tudo engendrado por portugueses. A estátua está boa mas não há nada escrito. Nenhuma inscrição, nenhuma placa. As palavras são muito importantes! É importante não esquecer o que se passou. Para aqueles que morreram ou sofreram não sejam esquecidos, até os próprios acontecimentos! Lembro-me da visita que fiz aos campos de concentração de Auschwitz na Áustria onde estiveram milhões de pessoas encarceradas, onde a maior parte morreu à fome, com doenças, maltratadas. Pode-se visitar todos os sítios, os quartos, as câmeras de gás, todos os espaços. Há fotografias, há restos de cabelos, de roupas. Instrumentos usados. Tudo! Uma pessoa sai de lá com uma sensação de ter vivido tudo, um mal estar incrível. Mas com isso aprende-se, pois ninguém sai dali indiferente. Fica-se com aquelas imagens marcadas para sempre. Não se esquece. Impossível. Aqui em Fernão Dias deviam fazer um Museu! Bom, entrámos na Roça. Está como todas as do país. Edifícios em ruínas, pessoas a viver nos diferentes espaços. Fomos até à ponte. Vi as marcas dos caminhos de ferro que iam até à ponte, levando as mercadorias aos barcos. Vi alguns espaços diferentes, que não vi em mais nenhuma Roça. Deve ser por esta ser mesmo à beira-mar. Arranjámos as cervejas, falámos com algumas pessoas mais velhas e fomos para a praia Governador. À chegada, puuuufffff arrebenta o pneu!! Que azar!!! Ficámos pela praia, pois ainda tínhamos bastante tempo! O Osmar veio ter connosco! A praia é linda de morrer, deserta, paradisíaca, rodeada de verde. A água do mar tépida, transparente! Ahhh como eu estava a precisar de vir aqui, pensei!! Ficámos a sonhar um pouco, eu a pensar na casa que gostava de construir ali mesmo em frente num montesinho que há, eles no futuro em Portugal. Depois dos petiscos, mt conversa e risota seguimos para Micolo para tentar tapar os furos! Não é que demoraram 3 horas para fazer isso!!! Parece impossível… mas não foi mesmo verdade! 3 horinhas! Deu para comer búzio do mar, beber cerveja, sentar na esplanada do barzito pintado de rosa e azul (bom gostoé!), comer carapau grelhado com fruta e banana, passear pelo mercado de Micolo, comer muita jaca, limpar as mãos com óleo de girassol emprestado, fazer amigas, tirar muitas fotografias a crianças lindas, todas sujas e com roupa esfarrapada mas sorrisos bonitos e olhares carinhosos; sentar apenas a olhar motas (mau muitoé), ouvir música e ligar a Alex para ela ouvir também a musica dela, ligar ao Omali, conhecer um bebezinho muito lindo e andar com ele ao colo, ficar a ver os rapazes a jogar playstation (fazem torneios em pleno Mercado!), conhecer 4 gerações de uma família, tudo de uma só vez numa humilde banca recheada de hortaliças e coisas da terra! Vou ter direito a aula de preparação de Calulu da próxima vez que eu lá passar! É por isso que eu gosto deste país!! Era disto que eu precisava!! Contactar com as pessoas, estar rodeada de Natureza, sentir verdadeiramente São Tomé!!
Pneu remediado, agora vamos bem rápido para a cidade a ver se ele não esvazia! Não é cómico? 3 horas a trabalhar para depois durar 20/30 minutos??ke kuá??! Bom, estamos todos de bom humor apenas com pressa! Fico na Igreja da Conceição pois ia ver uma casa ali perto. Lá no descampado ao lado, também há um pequeno mercado ao ar livre. As crianças rodeiam-me, pedem doce. Estou bem disposta, vou-lhes comprar pão! Tenho de ficar à espera. Pego no mais pequeno deles todos, de 2 anitos, vem logo a mãe dizer que ele gostou de mim, que eu até o podia levar só que o pai não deixa! Isso é óptimo, um pai que quer ficar com o filho! Eu disse-lhe que isso era uma coisa boa… Nem entendi, pela rapariga eu ficava logo ali com o miúdo para mim! Assim tão rápido!! Fomos conhecer o pai, afinal ele também me dá o filho, primeiro era só para um passeio, mas já se rendeu… Parece impossível! Quando a mãe percebe que não vou levá-lo, pede para eu lhe comprar um sumo ou um pão… Acaba-se a espera, vou ver a casa..No caminho encontro Juanito e Ismael, chefs de cozinha do Pestana,chilenos. Combinámos ir almoçar um dia destes! A casa fica em Boa Morte, acontece que é enorme, com 8 quartos e não tem mobília. Uns 300 euros. É pa um dia quando tiver um rancho de filhos…. Hehehe …let me keep dreaming, i like it and it doesn’t hurt! A outra casa, perto da Kizomba, vai ser só amanhã! Vou para casa descansar deste dia fascinante!

1 comentário:

  1. Fico bem feliz por saber que tiveste um dia cheio de coisas boas...dava tudo para ter ido com voces mas há pessoas que merecem um castigozinhooo...sou eu...vou agora contar te o meu dia pequena...

    bjao

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