terça-feira, 22 de março de 2011

16/03/11
Para este dia tínhamos planeado ir conhecer algumas roças do norte da ilha. A manhã estava fresca com um ventinho a soprar agradavelmente. Encontrei-me com a Susana em plena Praça da Independência depois de ambas despacharmos os nossos assuntos pendentes. Liguei ao meu motoqueiro dos passeios, o Mr. Pik, para termos uma pequena aventura a meio da semana. Depois de estabelecermos um bom preço (amigos são para as ocasiões) o Pik foi até ao bairro do hospital buscar outro motoqueiro porreiro. Pelos vistos não foi fácil porque todos pediam mais de 150 mil dobras e o preço estabelecido tinha sido metade desse valor! Lá voltou com um Gualter e lá partimos, primeiro rumo à Bela Vista. No caminho para lá ainda consegui tirar umas fotos à Susana na mota, o que é sempre mt divertido de se fazer! Mais uma vez a paisagem verdejante a rodear a estrada…apenas algumas casinhas a quebrar o ritmo dos cacaueiros, bananeiras, fruteiras e outras árvores maiores! Em Bela Vista fomos ver o cacau a secar, que desta vez tinham disposto em estufas… Estava um cheiro muito mais intenso do que normalmente! Forte de mais que até enjoava! Continuamos a visita pela Roça, passamos pela creche e a educadora veio cumprimentar-nos à porta, onde levou dois miúdos a fazer xixi mesmo à entrada da escola…Viraram-se um para o outro e baixaram as calças…Claro que nós ficamos as duas a olhar um pouco chocadas! Fomos ver outros edifícios onde guardavam as ferramentas e tivemos de aturar um senhor um pouquinho doido que nos perguntou se não tínhamos medo de estar em África…ao que obviamente respondemos que não. E ele a insistir falando de elefantes e cobras, dizendo que se fosse para a nossa terra também ia sentir medo! Bem, lá escapamos à conversa mesmo a tempo de os motoqueiros nos encontrarem. Fomos conhecer a sanzala! Aquela já não tem o formato original em forma de quadrado com os tanques no meio…Muitas construções “modernas” feitas de madeira encontram-se no meio. Eles queriam beber o vinho de palma que estava à porta de uma tasquinha, supostamente bem fresco apesar de exposto ao sol mas a senhora que vendia não estava em parte nenhuma. Fomos seguindo e cumprimentando as pessoas com as criancinhas todas a virem atrás de nós… Parámos numa casa onde tinham feito uma estrutura para secar roupa ao sol. Dois troncos na vertical, espetados no chão e ao meio na horizontal uns três troncos! Estava bem feito, artesanal mas fixe! Ficamos a tirar fotos quando as senhoras da casa em frente nos chamaram para tirar foto a um bebe de poucos meses muito clarinho. Depois conhecemos a irmã dele, ocossô, albina. A miúda era bem bonita com um cabelo loirinho todo entrançado, com as trancinhas espetadas no ar! Muito fofinha! As senhoras eram bem simpáticas, sem problemas por estarmos a tirar fotos. Estavam a escolher a izaquente que iam cozinhar ao jantar, izaquente de azeite! Ainda perguntei se iam vender ou se fariam ao almoço para passar lá para comer. Estou com desejos de izaquente! Pelos vistos o Pik foi cozinheiro no ilhéu e já se estava a oferecer para fazer para mim! Heheh.
Depois de umas fotos com as crianças seguimos nas motas para a próxima paragem, Boa Entrada! O nome diz tudo!! Uau! Nunca vi uma Roça tão bonita! Deve ter sido certamente uma das Roças mais importantes ou então pertencia a um dos administradores mais ricos! A casa principal era um autêntico palácio, mas que pena tão mal conservada a cair aos bocados, como quase todas as casas coloniais das roças! Fiquei pasmada, imaginando a beleza daqueles edifícios noutra época, antes do 25 de Abril, por outro lado, a Susana ficou triste imaginando o desperdício! As crianças da roça vieram logo receber-nos com os habituais “amiga, branco, branca tira foto”. Levaram-nos a conhecer a chota, que não estávamos a perceber o que era. Entramos na casa e percebemos que falavam do sótão! Sinceramente a casa deve ter sido um espectáculo, o que eu dava para retroceder no tempo e viver um dia naquela época para poder ter noção de tudo! Vidros partidos, azulejos retirados, muito vandalismo! Mas por outro lado marcas da riqueza da casa, boas portas, banheiras nas casas de banho, suites, lareiras, marcas de candelabros, chão ainda com ornamentação e melhor que tudo Elevador!!! Que espectáculo! Montes de quartos e lá em cima o sótão, com o telhado ainda em bom estado, apenas com o chão com alguns buracos. Denota-se a arquitectura bem pensada da casa – uma boa construção! Depois apareceu o suposto guarda da casa que vinha com uma pedra na mão, um velhote desdentado todo chateado por não termos pedido permissão! A casa assim a cair aos pedaços e ele está a guardar o quê, perguntamos nós. Só se for um dos compartimentos que serve para a realização das sessões da Igreja Maná… que grande desperdício! Fugimos do senhor e fomos conhecer as outras casas dos portugueses que trabalhavam na Roça. Deviam ter sido boas casas, mas agora todas descaracterizadas ou esburacadas com cada família a ocupar o seu quartinho! Em frente a essas casas há a escola primária da Roça e foi aí que reparámos nos dois pilares que antigamente suportavam os portões da Roça, ao fundo da estrada. Virámo-nos para o palacete e então é que vimos a frente da casa! Que luxo!! Para além disso, o que mais me surpreendeu foi a beleza das casas da sanzala… Todas seguidinhas em várias filas divididas por ruas, com um telhado em bico, todas iguais, terminando com um monte ao fundo! Muito bonito, a mais bonita que já vi, sinceramente! Apesar da fome já se fazer sentir (e que 4 se juntaram) ainda tínhamos mais uma roça para conhecer, Monte Macaco! Finalmente ia conhecer a roça que o meu tio-avô conhecera há mais de 35 anos! Tinha de fazer isso por ele e pela minha curiosidade também! Bom, depois de se ir a Boa Entrada qualquer outra roça já não surpreende! Então Monte Macaco é bem pequeninho! Arranjámos uma guia, uma senhora que tinha trabalhado na roça enquanto esta ainda funcionava! A senhora, de origem cabo-verdiana, bem simpática, explicou-nos que a sede era em Boa Entrada e que esta era uma dependência mas que depois do 25 de Abril a sede passara a ser Bela Vista, o que nós estranhamos um pouco! Foi-nos mostrar a sanzala e esta já tinha os tanques ao meio rodeados pelas casas! Contornámos o sítio sempre com as crianças atrás de nós todas divertidas! Passámos pela entrada de uma casa onde estavam sentadas uma senhora mais velha com mais duas raparigas, uma delas carregando um bebe bem pequeno. A senhora mais velha chamou-me perguntando se eu já estava em São Tomé há algum tempo ao que eu respondi que sim. Ela disse que alguém me estava a reconhecer… E eu disse “ahh” e bazei! Nem quis saber de onde mas ela também não pareceu muito entusiasmada para falar mais! Subimos pras motas já a pensar no almoço…nós na comida, eles nas bitolas. No caminho parámos num bar com bom aspecto que ficava na estrada rodeado de mato chamado “loja Europa”. Ainda comprei umas hortaliças a um preço bem mais barato que na cidade. Pelos vistos estávamos em Maianço, mais uma zona! A paragem foi para beber uma cerveja cada um e para o Gualter cumprimentar familiares! Hehe. É impressionante como têm família em todo o lado! Ainda tive uma conversa sobre o machismo em São Tomé com um polícia que tinha ido lá comprar grades de Rosema! Veio com uma mulher, ela é que teve de carregar as grades todas para dentro da carrinha. Todos os homens estavam a olhar…por acaso o Pik conhecia a moça e começou a ajudá-la, ainda por cima estava um sol arrasador! O ar fresco que sentíramos lá nas Roças tinha desaparecido! Depois disso queríamos almoçar mas os sítios onde fomos averiguar em Santo Amaro eram caros… Então virámos em direcção a Conde. Não é que fomos parar ao mercado local onde até fomos bastante bem recebidos! Ahaha. Foi de rir. Primeiro arranjaram-nos uma mesa minúscula…A Susana sentou-se num mocho e ficou mt cómica, mesmo assim ficava bem alta! Havia pintado com peixe voador cozido! Mas desta vez o pintado era especial, com coco! Uma maravilha, na minha opinião de gulosa! A conversa foi animada com os rapazes a contarem as peripécias deles, o prejuízo de levarem mulheres na mota, as aventuras, as partilhas… Para eles é normal a partilha, segundo o Pik há para todos “um cadinho para mim, um cadinho para ti, um cadinho para ele.” Ali entre nós, as duas pensámos “mas que nojo.” Há quem responda que é a cultura, outros que é o calor, para nós não é nada bonito! Mas se elas se prestam a isso, não se importam, o mal é delas! Sinceramente já nem digo que o pior é o homem, pois vejo cada uma, ouço cada história que já estão os dois no mesmo patamar! Claro que não podemos esquecer que há sempre excepções! No fim a moça que vendia a comida já queria aumentar o preço para 25mil (sabe-se lá porquê) mas foi contra-argumentado e como não poderia deixar de ser a gente conseguiu o que queria! Comigo e com a Susana podem se meter mas não têm muita sorte!! Depois de um safu como sobremesa (lol) seguimos para a cidade pois queríamos ir à inauguração de um novo espaço para a qual tínhamos sido convidadas pelo vizinho simpático, o sr. Carlos e tb pelo Betinho. Mas, infelizmente, não demos com o sítio! Tanto eu como ela que tínhamos visto o sítio com o senhor não o conseguimos encontrar… Foi muito mau, tive a sensação que aquele sítio tinha sido engolido pelo espaço! Que fantasiosa! Bom, vimos uma senhora a vender banana assada em frente ao IDF, ainda íamos comprar mas esta abusou no preço só porque a gente tem outra cor. Que lata, a pedir 10mil quando é sempre 5! Não comprámos e bazámos para as respectivas casas! Foi um bom passeio!

terça-feira, 15 de março de 2011

14/3/11 A volta ao ilhéu cerebral de uma portuguesa inconsciente

Sabem quando estão a viajar no estrangeiro e de repente ouvem alguém falar português, olham à volta admirados à procura e depois percebem que é mesmo alguém do nosso país? Uma conversa aqui, outra conversa ali e depois da euforia inicial de encontrarmos outro tuga fora do contexto natural, ficamos a pensar “só podia ser português” e retirámo-nos um pouco embaraçados.
Pois bem, em São Tomé é a mesma coisa. Excepções à parte, as frases indelicadas; as situações embaraçosas que tive de resolver em contexto de trabalho; os criadores de fofoca e intrigas; os exploradores pois admitamos ou não, existe exploração do homem pelo homem bem perto de nós; aqueles que a todo o momento dizem que querem ir embora mas continuam cá a sugar o cacau da terra, são portugueses. Não entendo porquê que estas pessoas que não gostam do país onde vieram parar, como exilados quem sabe, fechados em ambientes próprios por livre vontade ou vontade de outrem, continuam a fazer num país que menosprezam!
Eu sou portuguesa e tenho muito orgulho na minha Pátria mas fico com vergonha de partilhar com essas pessoas a nacionalidade. Para essas determinadas pessoas que friso, DEVIAM TER VERGONHA DOS BICHOS QUE SÃO, todo o cuidado é pouco. Apenas vos deixo alguns exemplos das dezenas que podia referir. Já ouvi falar que para comer só em dois cafés/restaurantes supostamente bem “reputados” pois os bares (aqui não tem o sentido do nosso bar, é o espaço onde se pode beber1 copo mas onde também servem refeições quentes) são mal frequentados e não têm higiene nenhuma, quando na verdade come-se o mesmo da mesma maneira, às vezes mais saboroso, feito pelos mesmos e a um preço mais acessível. Ouvi dizer que para a visita a certos ilhéus devemos levar o cadeado na cueca. Também me chegou aos ouvidos que contacto com a população local só em contexto de trabalho e calma aí, cuidado com as confianças, porque nós portugueses sejam quais forem as hierarquias somos sempre superiores…
Ironias à parte, já ouvi dizer coisas tão insultuosas e disparatadas sobre a negritude que a minha vontade foi fugir, atirar-me para baixo da mesa e até desaparecer com tanta vergonha desses meus compatriotas. Não vou reproduzir pois mentiras e estupidezes de nada servem serem reproduzidas e estaria a insultar, mais uma vez, a população humilde que me recebeu de braços abertos, os desconhecidos que me cumprimentam na rua sem pedirem nada em troca para além de uma palavrinha e sorriso, as pessoas que sorriem com o olhar e que às vezes é o que dá força e alegria para encarar a noite, vizinhos que ajudam à primeira dificuldade apesar de pouco terem; amigos e amigas, boas pessoas, com princípios e valores, pessoas inteligentes e corajosas muito estimadas por mim e por muitos. Não entendo como alguém pode ter tanto ódio, querer tão mal aos outros, ser assim racista e preconceituoso até ao tutano. Será que há cura para toda essa encenação em que vivem?? A denúncia da exploração do homem negro pelo homem branco devia ser bem estruturada e argumentada.
É muito triste que no século XXI ainda existam discrepâncias tão grandes a nível de salários só porque se é de outra cor, de outro país. Como é possível que numa empresa haja uma maioria de chefes de departamento caucasianos a ganhar em média mais de 1200 euros por mês e por outro lado os locais a ganharem uma média de 40€? Não entendo quem consegue viver com isso na consciência e nada faz. Para mim é ultrajante. Revolta-me. Era necessário que os locais dissessem que BASTA, unirem-se para uma greve, exigirem melhores condições de trabalho e humanas. O problema é que por questões históricas, associadas à gestão portuguesa das roças aquando do período colonial, estas pessoas têm medo, muito medo…hoje em dia já não é de serem chicoteadas e espancadas até à morte, mas sim de perderem o seu mísero salário e não poderem com o pouco que ganham ter pelo menos dinheiro para alimentar as suas famílias e ter alguns confortos. Falta mudança de mentalidade colectiva.
Estas pessoas, estes portugueses de boca suja não deviam estar aqui rodeados por esta beleza natural fantástica, estas maravilhosas praias e ilhéus mágicos, pois ao mesmo tempo que usufruem e bem, muitas vezes às escondidas fugindo para os recantos mais puros e intocáveis, as suas bocas estão a sujar e a maldizer as ilhas, o seu mítico leve leve e os locais.
Eu sou portuguesa mas sou também cidadã do mundo. Adapto-me bem à diferença e à mudança. Tenho gosto em conhecer tudo, sou curiosa, gosto de aprender. Sou amante da cultura, nesse campo tudo me fascina. Nada há mais natural que o contacto com os locais num país desconhecido. Viver é isso mesmo; sentir, falar, trocar experiências e saberes, fazer amizades, amar, rir e sorrir para quem quisermos. Tenho pena de quem vive dentro da peça de teatro que encenou e criou, sonhando com a pátria longínqua. Seus miseráveis, acordem… todos somos do mundo!

11/3/11 Uma lufada de ar fresco chamada Susana

Recebi em minha casa uma nova hóspede. É sempre bom, a casa fica com outra vida, a rotina muda e a energia dela espalhou-se agradavelmente pelos nossos espíritos. Foi pena não ter recebido a Susana no primeiro dia mas tinha de trabalhar naquele que foi o meu dia de regresso ao hotel após a minha doençazinha.
Aconteceu uma coisa engraçada. Sabem quando conhecem alguém pela primeira vez e após umas horas de conversa, a sensação é de que já se conhecem há muito tempo? Pois é comigo e com a Susana foi assim. A cada assunto novo, mais uma coincidência. A nível de personalidade, temos muitas semelhanças mesmo. Gostamos ambas de comer muito e somos poupadinhas. Regatear preços com motoqueiros é connosco. Tudo isso e mais uma série de coisas íntimas que nem todos precisam de saber, mas até chega a ser assustador… Ela diz que parece que estivemos a ler sobre a vida uma da outra!
Durante estas duas semanas temos passeado bastante pela cidade principalmente. Andámos a pé percorrendo cada rua e esquina da cidade assim como cada restaurante, bar e grelha de rua procurando, ora o calulu ora a banana pontada assada. Fui encontrando alguns amigos e fui apresentando a minha nova amiga. Como costumam dizer que eu e a Alexandra somos irmãs, de mim e da Susana perguntam se somos gémeas! Tem imensa piada! Se vissem alguma das minhas irmãs acho que desmaiavam por causa das reais semelhanças! No Carnaval andámos atrás do desfile percorrendo todo o centro da cidade e acabámos por ser a atracção principal, vestidas de gémeas….
Conversámos tanto que às vezes na estrada me distraí e pus o pé nas poças de água e lama. Fomos nadar à Praia Emília e no Museu Nacional subimos até ao Farol, as duas com um pouco de vertigens mas cheias de vontade de tirar a foto de praxe lá em cima! Estava vento e cheirava fortemente a maresia, que sensação boa a da maresia! Comemos na rua e gostámos muito, ficamos bem cheias na D. Paula depois do búzio do mar, da fruta-pão com choco e da divinal banana assada pontada! No dia do Bocado, não comemos um bocado do calulu dado numa colher à boca pela avó a cada familiar sentado numa esteira no quintal como é tradição, mas sim um prato cheio, mesmo aqui em frente à minha casa. Os vizinhos são muito doidos, cada conversa que a gente riu de abuso. Fomos comer à D. Teté e depois fomos à Happy Hour do Passante, que modéstia à parte, estava tão fraquinha. Muito vazio, com pouca gente a dançar, ao que se chama aqui um ambiente frio. Deu saudade do Café Companhia. Ouvi dizer que vai reabrir com nova gerência, o que são boas notícias! Depois ainda fomos conhecer a discoteca Dj Cabelo perto do aeroporto na companhia do Humber, Apolo, Élvio, Juan Carlos e mais um pessoal habitual das festas. O ambiente também não estava nada de especial, mas deu para matar a vontade de dançar o que foi bom. Senti falta da minha Alex, do Clemente, da Rita, da Gina.
No domingo dia 13 de Março fomos ao Ilhéu das Cabras. Depois de algumas complicações e atrasos iniciais lá partimos – Susana, Élvio, Marisa, Águeda, Clemente, Humber e eu. A viagem foi feita num bote bem mais pequeno e raso que o carioco. O pessoal ia quase todo assustado, vi a Águeda agarrar-se aos dois meninos que estavam sentados ao lado dela, a cara do Clemente assustado ao entrar no barco, tremendo por todos os lados. Muito bom! A paisagem brutal e a sensação única, a saudade de estar no meio do mar, ali tão perto de me tornar sereia, espuma, concha e areal como contam as minhas fantasias, ali onde me sinto tão perto dos meus antepassados, onde as minhas energias se revitalizam. A proximidade do ilhéu das Cabras, pensando que finalmente ia explorar aquele cantinho que todos os dias me fixa e chama. A chegada à praia foi bonita. Via-se o farol lá no alto, ao olhar parecendo inacessível...um contraste entre o verde da vegetação e as muitas rochas da ilhota. Aproveitamos o mar, demos mergulhos do bote, fomos comendo. Recebemos companhia, por acaso nesse grupo vinham uns conhecidos meus do Bairro do Hospital, o que foi bom. Fomos subindo, com objectivos de ir até ao Farol. Encontrámos uma praia paradisíaca no expoente do termo! O meu deslumbramento instantâneo levou-me a descer até às rochas, despir-me rápido e atirar-me àquelas águas cristalinas. Pimba, um monte de ouriços a picar-me o pé. Ouriços com pico grandeê. Ké Kwá! Depois de retirado o grandalhão com o canivete fomos todos para o mar aproveitar aquela maravilha que nos esperava. Aquela praia era rodeada de rocha e num dos lados havia uma gruta. Lembrou-me a zona sul do ilhéu das Rolas. Muito lindo. Tirámos fotos para a posteridade! Passada uma boa meia hora ou mais seguimos para o Farol. Ao subir havia carroço para comer apesar de muito margoso. Ninguém se lembrou de levar água e já fizemos a viagem na hora de almoço. Havia caminho feito - umas escadas que eram um pouco altas demais. O que me fez esquecer a sede foi olhar para trás quando me virava! Que paisagem, que beleza, palavras para quê?? Ir embora porquê?? A minha vontade foi levar ali a minha família e amigos para verem todo aquele mar, aquela cor de água, a beleza natural no seu expoente! Via-se toda a costa de São Tomé norte, desde o pontão do Pestana São Tomé até à ponta de Neves, os picos ao longe, as montanhas, os montes, toda aquela vegetação contrastando com o azul esverdeado do mar. Uau!!!!! Lá no cimo ainda melhor! Apesar de algum cansaço por causa do calor, todos estávamos conscientes da qualidade do que estávamos a observar. Comemos goiabas bem pequenas apanhadas mesmo ali na goiabeira do farol. Como não poderia deixar de ser tirámos muitas fotos e depois disso a descida era inevitável. Na praia aconteceram algumas coisas pouco agradáveis com a chegada de um grupo da Praia Gamboa. Depois seguimos para Micoló, mas antes fomos até á praia Governador para eles conhecerem. Na praia Tamarinos eu, o Clemente e o Élvio demos uns mergulhos. Um espectáculo. A felicidade é tão boa, ainda mais quando partilhada! Em Micoló parámos e fomos comer búzio do mar e beber umas bebidas bem frescas numa daquelas tascas tão boas que nenhum restaurante chique da cidade supera, na minha humilde opinião. Encontrei o Walter com um turista, o Rui - que veio cá duas semanas dar uma formação na EMAE. Juntaram-se a nós e ainda estivemos algum tempo a conversar! Depois fomos para o mar de novo, mais duas paragens no ilhéu, o que não nos agradou e uma num daqueles barcos naufragados que há lá perto! Foi um bom passeio, tendo consciência que terei de lá voltar em breve. O meu coração fica preso nestes sítios, a floresta virgem, a praia deserta, a água transparente são as minhas paixões…é onde estou como peixe no mar!

quarta-feira, 2 de março de 2011

01 Março

Os meses têm passado tão rapidamente que assusta…parece que ainda agora começou o ano e já vamos no inicio do terceiro mês do ano e já estou no Bom Bom há dois meses. Acordo às 6h quando volta a energia neste resort devido ao ar condicionada e a televisão que começam a trabalhar de novo. Ainda é cedo para me levantar da cama. Hoje partia para a cidade para mais uma das minhas missões na ilha do Príncipe. O tempo estava escuro anunciando chuva que acabou por nem cair. Às 7h já estava no portão, aguardando a carrinha do pessoal que me ia levar a cidade. A viagem foi engraçada com o Baba sempre a falar e ainda com o Xandinho a ralhar com uma Sra que o acusava de ladrão…eh eh…chegámos à cidade e ele levou-me logo ao mercado…mas fazer o quê ao mercado? A minha missão era encontrar a Gabriela, mãe de uma menina de 4 anos. E porquê? Porque uma cliente apaixonou-se pela miúda e pensou na possibilidade de dar a essa miúda uma melhor educação e nível de vida. A Gaby (vulgo da Gabriela) ficou espantada com aquilo que eu lhe estava a dizer mas sorriu, agradeceu e disse que ia falar com o marido. Fiquei de passar na próxima semana para saber qual era a resposta e se podíamos andar com isto para a frente. Depois passei na casa do Xéxe e da Olga que ficaram radiantes quando me viram e me deram um grande abraço. São mesmo fofinhos! Lá estivemos um cadinho na conversa e depois parti para os meus afazeres e o Xandinho também…eh eh…passei no banco e depois fui cumprimentar a minha querida amiga Lena que ia para a praia comprar peixe para preparar as refeições dos clientes dela. Então decidi ir com ela e lá fomos à praia esperar uma canoa que vinha lá ao longe. A maré estava vazia, não possibilitando a piroga chegar até nós, então ela teve mesmo que entrar no rio. Ainda conseguimos uns peixinhos jeitosos e fomos para o tasco dela. Encontramos uma sra que eu tinha conhecido logo nas primeiras idas à cidade que nos obrigou a ir a casa dela acompanhar a família e fez questão de me apresentar o marido…eh eh…foi engraçado pois eu estava a dizer que já estava de partida e eles disseram que eu não podia ir, que íamos criar uma empresa de marketing…eh eh…no caminho comprei um tecido africano bem bonitinhoooo…eh eh…depois acabei por ir à procura de doce de coco pela cidade mas parece que ninguém andava a trabalhar nisso…que chatice! Fui à Olga de novo e ela levou-me a casa de uma senhora que, por acaso ainda tinha seis docinhos…trouxe pa mim…huum…adoro este doce do príncipe…por volta das 10h voltei de mota com o Xandinho para o Bom Bom e tive direito a mais uma aulinha de mota! Iupi…até que não é díficil mas arrancar tem sido um problema enorme para mim! Vou sempre abaixo! Ai ai…chegada ao resort estive no quarto até às 12h, depois fui almoçar o típico molho de fogo que a minha Alcinda fofinha preparou com muito carinho e às 13h já estava na minha recepção linda…lol…a tarde correu muito bem, estive bastante ocupada, a malta estava animada e conversadora. O Helder contou-me que há uma espécie de jogo/acordo entre as pessoas de cá. Imaginem, ele faz parte de um grupo de 5 pessoas, entre eles definem uma quantia e todos os meses um deles recebe essa quantia por parte de todos os membros do grupo. Eles chamam a isso o “Chikilá”…eh eh…o que pode ser um pouco perigoso porque se um deles não tem essa quantia num dos meses, o que supostamente iria receber nesse mesmo mês fica a arder…eh eh…eu é que não me metia numa coisa dessas…engraçado que eles fazem acordo com o banco, tendo este que retirar a quantia todos os meses e colocar na conta daquele que deve receber nesse mesmo mês…confuso hein? Por volta das 20h fui até ao restaurante, jantei uma bela salada, estive na conversa com o Thomas, o Joshy e o Amílcar e acabei a noite a jogar a bisca com o Bikini que perdeu os jogos quase todos…eh eh…antes da energia ir, adormeciiii…
A

Holidays at São Tomé...eh eh

17 FeVeReIrO


Acordo às 6h30 com uma dorzinha de cabeça depois do jantar na noite anterior com os clientes que estavam no Bom Bom. O José Carlos tratou-nos muito bem! Tinha decidido ir trabalhar até à hora do voo para São Tomé. Estávamos impacientes para saber a que horas partiríamos rumo à outra ilha, que eu estava desejosa de voltar a ver e os clientes de conhecer. Ainda deu para fazer uma série de coisas na recepção. Também fui ao restaurante tomar uma cafézada matinal. Fiquei lá na conversa com o Ramos e o Atty. De certeza que ia sentir falta daqueles momentinhos descontraídos no restaurante! Por volta das 10h30 saímos do resort em direcção ao aeroporto, já tinham avisado que este iria sair de ST às 10h…iupi! A Michelle, amiga do Thomas, coordenadora do projecto da criação da escola de Belo Monte também ia conosco visto não se estar a sentir muito bem. Claro que ele teve que ir acompanhá-la até ao aeroporto, devia ter medo que lhe fizéssemos mal…eh eh…brincadeirinhaaa…assim que chegamos ao aeroporto fizemos check-in. Acho que ainda não tinha referido que por vezes eles têm que pesar os passageiros tendo em conta a dimensão e capacidade do avião. Então lá me chamaram para me ir pesar numa daquelas balanças que a minha avó usava antigamente para pesar as batatas e outras hortaliças que ela vendia! Sim, daquelas bem antigas com pesos que devem ser regulados para se obter o peso. Eh eh… enquanto esperávamos pelo avião ainda servi de tradutora porque disseram no aeroporto que não havia lugar para a Michelle mas tinha-nos garantido em ST que haveria. Esta gente nem entre ela se entende…ai ai…por pouco senti a minha vida a andar para trás, pensando que eles pediriam o meu lugar para que ela pudesse ser tratada em ST…mas lá conseguimos um lugarzinho falando com o piloto! Passado meia hora já nos encontrávamos no avião rumo à minha ilha predilecta: São Tomé! Olhava pela janela com o pressentimento de que seria a última vez que olhava para aquela paisagem verde quase intocável. A ilha parece bem mais pequena quando se passa por ela, mas quando se vê de cima é maior e temos a sensação que nem habitada é. O Nestor, marido da Ilka, mostrou-me onde era a roça dele – Maria Correia, e prometeu levar-me lá quando ambos regressássemos ao Príncipe. Queria imenso voltar a esta ilha, sinto que ainda ficou muito por descobrir e explorar…fechei os olho enquanto atravessávamos o mar mas sempre à espreita a ver se via um bocado de terra. A aterragem foi calminha, a felicidade invadiu-me por estar a pisar de novo aquela ilha…ninguém me esperava no aeroporto, apenas o motorista do Omali porque a Michelle ia para lá. Acompanhei-a até lá e liguei ao meu motoqueiro para ele passar a buscar-me e assim aproveitava para cumprimentar! NEXT STOP: O-que-del-rei! Quando cheguei a casa percebi que ninguém estava a minha espera, comecei a gritar pela malta e lá apareceu o Humber que mal me cumprimentou...quando a Maggie chegou a casa, senti-a tão fraquinha, via-se que estava com dores! Demos um abraçinho e depois pus me a falar, falar, falar...eh eh...estava à espera de um pouco mais de entusiasmo da parte deles! Entretanto chegou a Gina que me deu alto abracinho, soube tão bem, senti a falta delaaa...sempre disposta a ajudar e animar a malta...enquanto punha a conversa em dia a Maggie estava a aquecer a comida mas acabei por almoçar sozinha...todos desapareceram! Depois do famoso arroz de feijão, do qual já tinha saudades fui ao Bairro do Hospital buscar algumas roupas e aproveitei para cumprimentar a família, fui a Edna e depois casa! Estive na conversa com a Maggie e depois fui buscar o Apolo à carrinha porque ele tinha insistido bastante nisso...depois de tanto tempo estávamos mesmo a precisar de matar saudades um do outro, então decidimos dar uma voltinha pela cidade, conversar, beber uma bitola e depois casaaaa...chegados a o-que-del-rei reparámos que a tasca do Oldair estava aberta e então paramos. È o grande amigo do Apolo lá da zona e desde que fui para o príncipe que ele não aparecia lá...ainda bebemos uns copinhos e depois toca a ir para casa descansar e dormir coladinhos...huum...dia longo muitoé!

A.