quarta-feira, 29 de junho de 2011

29 de Junho de 2011

De volta ao blog com minhas palavras. Como sabem escrever não é todos os dias, nem sempre há inspiração, nem sempre há vontade. Pegar na caneta e deixar a mão escorregar pelas folhas também pode ser perigoso. Nem sempre devemos deixar a mente fluir e ver as palavras surgirem para entender toda a sua conexão. Desta vez senti-me bem. Talvez alguma música que me arrepiou e que me acordou para a escrita. Às vezes penso, estando eu numa das ilhas mais lindas do mundo deveria estar na minha fase mais criativa. Escrever, desenhar, delinear projectos. A conclusão a que cheguei é que isolados não somos ninguém. Por alguma razão as histórias que conhecemos de pessoas que foram viver para a floresta não resultaram bem. Sempre houve a tendência para as comunidades. Sempre foi esse também o meu sonho. A partilha dos saberes. Por esta linda ilha vou estando, por vezes caindo numa monotonia a que me devia negar. Rotina que leva á preguiça de espírito e quebra a vontade de movimento do corpo. Uma ida à capital do país e conhecer uma grande mulher nos últimos dias fizeram renascer dentro de mim algumas coisas que estavam adormecidas. Cada momento e cada dia devem ser aproveitados ao máximo dentro das possibilidades. Em tudo há algo a aprender, não há locais propícios à estagnação mental mas sim há que haver dinamismo para combater certas carências que nos podem levar a ela. O lema é pensar positivo sempre.
Tenho pensado muito na vida, no destino. As conclusões a que cheguei são um pouco desconcertantes. Não podemos mesmo fazer muitos planos para o futuro. Tudo muda. Como diz o grande Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.” Claro que o que há de mais profundo em cada um de nós fica mas muita coisa se altera. Às vezes queria ser uma pessoa diferente, que não se liga às pessoas como eu me ligo. Habituo-me e depois sinto muito falta. Viver aqui não é fácil, muito menos sozinha sem alguém ao nosso lado pois não temos as distracções do mundo contemporâneo. Viver num hotel tem muito que se lhe diga, apesar das coisas boas tb. Todas as semanas conheço uma pessoa nova! Algumas ligações que sobrevivem ao espaço e tempo apesar de o encontro ter sido curto. Hj foi embora uma brasileira que ficou minha amiga. Obrigada por tudo Evelyn 
Nunca vi lugares tão lindos e virgens como os que vejo cá quando tenho a oportunidade de ir passear. Aqui há algumas comunidades com carências a vários níveis, falta de energia, higiene, saúde alimentar, saneamento, educação. Há duas semanas fui conhecer uma comunidade piscatória na costa oeste da ilha chamada Lapa. Primeiro fica completamente fora de estrada. Tivemos de deixar os transportes num ponto onde há um rio que converge com o mar e a ponte que existia está completamente destruída, tornando impossível a passagem. Tivemos de descer pela praia e andar pelo menos 1 km a pé até alcançarmos a aldeia. Um lindíssimo areal extenso, o mar de cortar a respiração e em cima as casas de madeira e as pessoas sentadas em frente às portas ou ao lado das canoas que descansavam das suas viagens. Fiquei pasmada (novamente) com a beleza nos olhares das crianças. Fui com um grupo da campanha presidencial. Enquanto eles ficaram em reuniões, fui para o mar com 3 miúdas pequenas muito queridas. Nadei com elas às costas, fui mergulhar dos rochedos, sentia-me dentro do filme “Lagoa Azul” pois estávamos numa espécie de piscina com apenas rochedos, mato e mar á nossa volta. Falcões a sobrevoarem a minha cabeça mesmo em cima de mim, o canto de pássaros coloridos muito pequenos, peixes nadando aos nossos pés, os sorrisos daquelas meninas! Boiando no azul esverdeado do mar paradisíaco espreitava as grandes cores da paisagem verdejante que me rodeava com os picos surgindo ao fundo, rasgando os céus. A felicidade é fugaz, assalta-nos em momentos que não contámos. Aquele dia foi tão bom, senti alegria no mais fundo de mim, a minha alma cantou… No final essas crianças queriam ir embora comigo, também eu não as queria deixar. Mas tive de o fazer com uma promessa que voltaria dentro de algumas semanas. A alegria é assim, fugaz e transitória e a vida, uma caixinha de surpresas!
Passô *

segunda-feira, 27 de junho de 2011

27 de Junho 2011

Ilha do Príncipe - Ruy Cinatti

Penedos como torres, cataclismos.
Paranóia esdrúxula de verdura.
Haustos descendo que a terra inspira
E exala subindo a grande altura.
Nuvens, níveas núvens que ainda fulgem
E rolam peregrinas pelo vale
Aberto entre píncaros e morros.
Uma cadência arbórea detida
Nas praias circulares, mas que circunda
Os bruscos perfis dos promontórios.

Como não exclamar: Ilha do Príncipe,
Raiz do mar, promessa, angústia,
Um horizonte?! ...

Vista de Belomonte é um assombro.
Do Terreiro Velho, nem se exclama.
De Santo António, da baía extensa,
Vilória ao fundo, ater-me-ei
quando suar
Suor fecundo.

in "Lembranças para São Tomé e Príncipe" de Ruy Cinatti (1972) - Centro Cultural do Príncipe

quarta-feira, 15 de junho de 2011

15 de Junho 2011


Bom dia,

Deixo aqui algumas informações sobre as tartarugas da ilha do Príncipe. Algumas estão em vias de extinção, existindo quase exclusivamente aqui nesta ilha paradisíaca. Em parceria com algumas instituições desenvolve-se o programa SADA, com o objectivo de proteger uma das espécies que está em mais perigo.


"A fauna marítima é riquíssima em variadíssimas espécies, desde as mais conhecidas, como o atum, o salmonete, o cherne, o carapau, até ao tubarão, ao peixe-voador e à tartaruga, muito utilizados pelos naturais da ilha para a sua alimentação."


TARTARUGAS

Chelonia mydas (nome local: mão branca)



A ilha do Príncipe deverá ter uma população de cerca de 200 a 250 fêmeas adultas reprodutoras que de 3 em 3 anos têm uma época de posturas. São, assim, 80 a 100 fêmeas reprodutoras por ano, e cada uma pode fazer 3 ou 4 posturas durante a época. Em cada postura podem depositar cerca de 110 ovos, que ficam enterrados cerca de dois meses na areia, a incubar. A Praia Grande, a norte da Cidade de Santo António, é uma das preferidas pela mão branca e, por isso, um excelente local para turtle watching. As posturas têm início no mês de Setembro e prolongam-se até ao final de Fevereiro, mas os principais meses são Dezembro e Janeiro.

Simultaneamente, há também uma população numerosa de juvenis neríticos e de sub-adultos. Infelizmente, a incidência de GTFP (green-turtle fibropapillomatosis) começa a ser elevada e atinge exemplares em todos as fases da vida, embora seja particularmente acentuada nas fases juvenil e sub-adulta.

Eretmochelys imbricata (nome local: sada ou tartaruga-de-caco)

A ilha do Príncipe deverá ter, apenas, uma população de cerca de 50 a 60 fêmeas reprodutoras. Consequentemente, não serão mais de 25 a 30 por ano! Cada uma pode fazer 2 ou 3 posturas durante a época, depositando cerca de 130 ovos por postura.

Segundo o SWOT Report III, na época de posturas de 2005-06, foram registadas 36 posturas de E. imbricata, principalmente localizadas nas Praias Margarida, Sundi, Mocotó, Ribeira Izé, Bom-Bom, Stª Rita e Seabra. A época de posturas estende-se de Novembro a Março, sendo Dezembro e Janeiro os dois meses principais.

Para além desta sub-população de fêmeas adultas, que deverá estar nas águas e praias do Príncipe apenas nos meses de acasalamento (Setembro e Outubro) e posturas (Novembro a Fevereiro), existe uma sub-população de machos adultos, que poderá ser residente, e uma outra sub-população mais numerosa, de juvenis neríticos, também residente. Destes últimos podem ser observados, muito próximo à linha de costa e em águas muito pouco profundas, exemplares cujo comprimento da carapaça (CCLmin) pode ser tão pequeno quanto 25.0 cm.

Dermochelys coriacea (nome local: ambulância)

A população reprodutora que usa as praias da ilha do Príncipe é muito diminuta e inconstante. Esta espécie de tartarugas marinhas é pouco “fiel” às suas praias de origem (pouco filopátrica) e as fêmeas reprodutoras que esporadicamente ocorrem devem, de facto, pertencer às grandes rookeries do Gabão e da ilha de Bioko.

Nas águas costeiras, em particular a sul da ilha, encontram-se juvenis desta espécie. É uma situação de excepção, até agora considerada absolutamente única no Mundo, já que o comportamento característico e conhecido pauta-se pela utilização, em exclusivo, de águas oceânicas abertas.


O Programa SADA :


CONSERVAÇÃO SUSTENTÁVEL DA TARTARUGA-DE-PENTE (Eretmochelys imbricata) NA ILHA DO PRÍNCIPE

O Programa SADA é um programa de gestão sustentável de recursos naturais, com características participativas garantidas através do envolvimento de diversos actores sociais.

O recurso natural alvo é a tartaruga-de-pente, localmente chamada de SADA ou tartaruga-de-caco, espécie “Criticamente Ameaçada de Extinção” a nível mundial (IUCN Red List of Threatened Species 2009), e cuja população reprodutora na Ilha do Príncipe é uma das últimas de toda a costa ocidental de África.

As principais populações reprodutoras estão concentradas na América Central (onde a espécie está já a recuperar, depois da adopção de bem sucedidas medidas de protecção). Na costa ocidental de África, as ilhas do Golfo da Guiné (Bioko ou Fernando Pó, Príncipe, São Tomé e Annobón) são o único local conhecido de nidificação, sendo particularmente relevantes o Príncipe e o sul de São Tomé. O cariz de excepção faz com que esta população, geneticamente distinta de todas as outras, seja um património reconhecidamente interessante para a Biodiversidade do Planeta. Segundo o SWOT Report III, na Ilha de Bioko, na época de posturas de 2005-06, foram registadas apenas duas posturas. No Príncipe foram 36 e em São Tomé 38. A época de posturas estende-se de Outubro a Abril, sendo Dezembro e Janeiro os meses principais.

Na Ilha do Príncipe poderá ainda existir uma outra sub-população de E. imbricata, constituída pelos juvenis neríticos que podem ser observados nas águas costeiras, e que provavelmente não têm qualquer associação genética com a sub-população adulta reprodutora acima referida.

Os principais actores sociais envolvidos são as autoridades regionais, os mergulhadores e pescadores, a população escolar (professores e alunos) e os promotores e agentes turísticos.

O Programa SADA é um programa pluri-anual que teve início em Janeiro de 2009. Leva a cabo, em simultâneo, actividades em quatro linhas estratégicas:
o formação técnica
o protecção directa
o conhecimento aprofundado
o divulgação alargada

O Programa SADA é coordenado pelo CBioP – Centro para a Conservação da Biodiversidade da Ilha do Príncipe, um centro internacional de investigação da responsabilidade da Universidade do Algarve, do CCMar – Centro de Ciências do Mar do Algarve e do Governo Regional do Príncipe. O Oceanário de Lisboa, a Universidade do Algarve, o Praia Boi Nature Resort e alguns beneméritos privados contribuem de forma decisiva para o sucesso da iniciativa.


1. FORMAÇÃO TÉCNICA

A linha estratégica de formação técnica tem em vista habilitar pessoas, preferencialmente naturais e/ou residentes na Ilha do Príncipe, com capacidades adequadas para o desempenho de funções nas actividades do próprio Programa SADA ou em actividades complementares.

Exemplos de capacidades técnicas são as da realização de censos de tartarugas marinhas, nas praias ou no mar, da instalação e manutenção de centros de incubação controlada de ovos, do acompanhamento de visitantes em actividades de “turtle watching” e da prestação de serviços a equipas internacionais de investigadores. Estas actividades deverão possibilitar, à população local, a obtenção de receitas económicas; deverão, simultaneamente, criar postos de trabalho, reduzindo progressivamente as necessidades e motivações para a captura, morte e comercialização de tartarugas marinhas.


2. PROTECÇÃO DIRECTA

A linha estratégica de protecção directa tem em vista impedir que continuem a ocorrer mortes desnecessárias de tartaruga-de-pente (bem como tartaruga-verde e -de-couro), em qualquer das suas fases de vida (neonatos, juvenis neríticos, sub-adultos e adultos). Essas mortes são a principal causa do actual estatuto de espécie em risco crítico de extinção, na Ilha do Príncipe (e também em São Tomé).

Exemplos de causas de morte são as capturas voluntárias de exemplares nas águas costeiras, por mergulhadores e pescadores, as capturas de fêmeas reprodutoras nas praias de postura, as pilhagens de ninhos para recolha de ovos, e as capturas involuntárias de exemplares, em diversas artes de pesca. A aprovação de legislação regional e nacional de protecção de tartarugas marinhas, bem como a fiscalização do efectivo cumprimento dessa legislação, é objectivo fundamental da linha estratégica de protecção directa.


3. CONHECIMENTO APROFUNDADO

A linha estratégica de conhecimento aprofundado tem em vista a caracterização e descrição aprofundada da espécie, da sua ecologia, biologia e etologia, da dinâmica demográfica da população, e das particularidades da interacção entre homens e tartarugas marinhas.

Exemplos desta linha estratégica são a execução de projectos específicos de investigação científica e a participação em redes internacionais de intercâmbio de informação, entre especialistas. A avaliação do número actual de fêmeas reprodutoras de SADA que utilizam as praias do Príncipe para fazer posturas, a caracterização genética da linhagem matriarcal, da dinâmica reprodutiva, das rotas migratórias seguidas por fêmeas reprodutoras de SADA e, eventualmente, por machos e imaturos da mesma espécie, são alguns dos temas prioritários de investigação. Outro tema é, necessariamente, o “GTFP – green-turtle fibropapilloma”, em virtude da severidade da doença que se constata na região.


4. DIVULGAÇÃO ALARGADA

A linha estratégica de divulgação alargada tem em vista informar, a níveis local, nacional e internacional, da existência e relevância deste património natural, do seu actual risco crítico de extirpação, da necessidade imperiosa da sua gestão sustentável e das oportunidades que se poderão abrir para a Ilha do Príncipe, e para os seus diversos actores sociais, com a adopção de princípios e práticas de conservação sustentável da SADA.

Exemplos de acções locais são as acções de sensibilização e informação junto da população escolar, dos mergulhadores e pescadores, das forças da autoridade e dos agentes da justiça; exemplos de acções nacionais são a divulgação do Programa SADA na Ilha de São Tomé, tendo em vista a futura expansão. Exemplos de acções internacionais são a criação e manutenção dum “site” próprio, a presença em “webportals” e “sites” temáticos internacionais como o www.seaturtle.org, a participação em reuniões internacionais de especialistas e a promoção internacional da Ilha do Príncipe como destino turístico para “turtle watching”.


ATLAS DE TARTARUGAS MARINHAS NA ILHA DO PRÍNCIPE

A realização do Atlas informativo e detalhado sobre Tartarugas Marinhas na Ilha do Príncipe é um objectivo a prazo. Sintetizará o conhecimento aprofundado que for sendo acumulado, envolverá pessoas tecnicamente formadas pelo Programa SADA, motivará a protecção directa e a valorização do património natural e paisagístico da Ilha e será um suporte-chave para as acções de divulgação alargada.



O Programa SADA é necessário e urgente. Justifica-se a necessidade porque sem o seu lançamento será quase impossível assegurar o futuro da espécie na região. A urgência encontra fundamento na dimensão actual da população nidificante, nas praias do Príncipe, já muito depauperada, com indícios de se aproximar do limite de viabilidade demográfica e ecológica.


in http://tartarugasstomeprincipe.wordpress.com/programa-sada/

segunda-feira, 6 de junho de 2011


A brainstorming week
Escrevo um pouco enquanto me sento à varanda da Palhota numa cadeira de bambu e observo o Pico Papagaio e toda a paisagem verdejante que me envolve.
Os dias acalmaram agora, após uma semana muito ocupada com muito trabalho. Soube muito bem manter a cabeça ocupada e não ter tempo para outros pensamentos! Recebemos a visita do patrão e de mais 13 pessoas. A equipa de trabalho era muito heterogénea, constituída por pessoas interessantes e cultas vindas de alguns cantos do mundo, como África do Sul, Quénia, Inglaterra, França e Portugal. Foi um pouco como se tivesse passado a semana a viajar! Ao mesmo tempo fui conhecendo vários pontos lindíssimos desta ilha divinal que me puseram boquiaberta tal a sua beleza, tais como a Praia Boi, Belomonte e o Miradouro, Praia Banana, Porto Real e Ponta Mina. Ainda tive a oportunidade de conhecer o Ilhéu Bombom e fiquei maravilhada com a beleza natural e o encanto próprio do local.
Também ouvi falar de vários cantos onde tenho de ir para explorar as praias desertas, as florestas densas, as roças encantadas e o património de valor histórico vislumbrado através de antigas ruínas.
Na hora da partida deles, assaltou-me um pouco de tristeza e sensação de melancolia ao ver o avião partir. Agora voltámos ao ritmo normal. Uma coisa boa é que a partir de agora começarão a vir várias equipas de trabalho, por isso não faltará companhia, mais trabalho e animação!
Ontem um santomense que está cá em missão de trabalho dizia:” Se em São Tomé é leve-leve, aqui é parado-parado…”

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uma estória tradicional africana

Era uma vez um escorpião que queria atravessar um rio. A corrente, porém, parecia-lhe muito forte, as águas demasiado profundas e ele, desgraçadamente, não sabia nadar. Então, quando já desesperava, viu uma rã a tomar sol e perguntou-lhe se não podia colocá-lo a salvo na outra margem. A rã olhou-o desconfiada:

"Achas-me assim tão estúpida, senhor Escorpião? Uma vez nas minhas costas, estou certa, espetas-me o ferrão, e matas-me."

O escorpião negou com veemência:

"Pensa melhor, amiga rã, eu, sim, seria muito estúpido se te matasse. Morreria contigo."

A rã, embora reticente, deixou que o escorpião subisse para as suas costas e começou a nadar. Ia a meio do rio quando sentiu a picada.

"Porque fizeste isso?", perguntou, "morreremos os dois."

O escorpião nem sequer procurou desculpar-se.

"Assim será", disse: "foi mais forte do que eu. É a minha natureza."

em "O ano em que Zumbi tomou o Rio" de José Eduardo Agualusa

quarta-feira, 25 de maio de 2011

22 de Maio de 2011

As Palavras - Eugénio de Andrade


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

16/5/11 - Leve leve, leve leve do Príncipe

Após uma semana no Príncipe, escrevo a contar as primeiras impressões.
Por cá tudo tem um ritmo diferente. Estamos a trabalhar e de repente vai-se a energia durante duas horas e meia. Custa a acostumar a tal acontecimento quando já estamos habituados a um certo ritmo de trabalho. Agora por favor imaginem-se a trabalhar, voltam do almoço, continuam o que estavam a fazer e de repente era uma vez a energia, o computador, a internet, o ar condicionado, a televisão… Claro que aqui alguns dos espaços de serviço ao público têm um gerador. Adiante.
Este fim-de-semana fui conhecer o sul da ilha. Estive numa localidade chamada Praia Abade onde as pessoas têm apenas 2 horas de energia por dia pois foi-lhes fornecido um gerador. Como é a comunidade que paga o gasóleo, apenas têm capital para essas 2 horas. Imaginemos então, estas pessoas não têm uma televisão, uma rádio, electrodomésticos, nenhuma das coisas que nós, ocidentais, consideramos básicas numa habitação. Apercebemo-nos também que algumas destas pessoas usam esteiras em vez de camas… Não obstante tais dificuldades e situação económica e social em que vivem estas pessoas, fomos recebidos com um grande sorriso por todos, crianças e adultos. É uma comunidade essencialmente piscatória e encontrámos um senhor a construir uma canoa para a pesca. Estava quase no fim, já estava a colocar os bancos. Era feita de madeira “que vem de fora”, como disse o homem. Ficámos a saber que era pau-rosa, que não existe no país e que é encontrado a boiar na costa ocidental. O senhor tinha demorado 10 dias a construí-la, tudo feito á mão…merecia um prémio pelas condições de trabalho. Andámos a solicitar artesãos por toda a ilha e os poucos (contam-se pelos dedos de uma mão) que encontrámos têm um certo talento mas todos se queixam do mesmo – falta de apoios – para continuar a produzir as suas obras.
A verdade é que esta ilha sofre de dupla insularidade. Vejamos bem quais as riquezas da ilha, a Natureza, a agricultura, um dia será também o turismo. Uma viagem pelo mercado local, uma conversa com algumas pessoas e percebe-se que mesmo a maior parte dos produtos alimentícios frescos vêm da ilha de São Tomé. Como isto é possível numa ilha que é maioritariamente verde logo com enorme potencial para a agricultura? Fomos prosseguindo pelas terras do sul onde as estradas não se comparam em qualidade com as do norte da ilha. Estas pelo menos não têm muitos buracos, enquanto as do norte são completos caminhos de cabras, lembram caminhos no meio do mato levemente trilhados pela passagem das pessoas. Aproveitámos a boleia do dono da Pensão Palhota na recolha de assinaturas para uma candidatura à Presidência da República. A adesão das pessoas foi total… parece que todos estão a precisar de alguém que realmente imponha algum respeito e autoridade… Foi bom para conhecer a ilha, fomos até ao Terreiro Velho, e passámos na entrada onde o sr. Corallo tem os terrenos com produção de café e cacau. Estivemos a conversar com as crianças e no caminho ainda parámos e vimos uma bela paisagem sobre o mar com o ilhéu boné de Joker a surgir majestosamente no oceano. Fomos também a Porto Real onde conversámos com um artesão que trabalha a madeira e depois ainda fomos a Pinquete, onde fomos premiados com uma bela vista sobre a cidade de Santo António e com um grupo de crianças sorridentes e simpáticas que ficaram maravilhadas com as fotografias. Este fim-de-semana ainda tive a oportunidade de conhecer a Praia Macaco, na costa ocidental a norte de Santo António que tem os piores acessos que já vi em toda a minha vida. Bem, a praia é maravilhosa, paradisíaca, perfeita. O mar estava um pouco agitado mas foi muito bom poder estar a desfrutar daquela maravilha da Natureza. Ainda bebemos umas dáuas bem frescas! Algo que é muito bonito aqui e diferencia-se em relação a São Tomé são as casas e os jardins fora da cidade. Há grandes sebes que delimitam os terrenos das casas e vão seguindo por quase todas as povoações da ilha. Os jardins estão arranjados com uma espécie de relva que deve ser típica de cá que fica mesmo bonita.
Já conheci duas portuguesas que cá estão a trabalhar na cidade, uma como professora outra é da área social. Também convivo diariamente na Palhota com dois militares de São Tomé que estão cá em missão de serviço. Em relação à minha bagagem que ficou em São Tomé, a minha salvação foi o Ia, filho do sr. Alex, que mandou mercadoria pelo barco que vem de São Tomé e deixou que a caixa com as minhas coisas viesse também!
De resto os dias da semana vão passando em trabalho e são muito idênticos. Começo a entrar numa rotina…

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Chegada à ilha do Príncipe

Mais uma partida e um aperto na garganta e coração. Desta vez uma viagem muito mais pequena e diferente ansiedade. O meu rumo era a ilha do Príncipe e o objectivo trabalhar para a HBD no escritório na cidade de Santo António.
Depois das despedidas na casa de Oque del Rei fui de boleia com o António do Bairro português para o aeroporto. Que sorte ele ter me ido levar pois a minha mala ultrapassava em muito os 15kgs permitidos em bagagem por pessoa, por causa da capacidade de carga e tamanho do avião. Bem tive de tirar uma carrada de coisas que depois ele tentará enviar por alguém que trabalha na Africa Conections. No avião para mim foi o terror mas para toda a gente parecia ser normal. Para mim na primeira vez num avião tão minúsculo onde apenas cabem umas 15 pessoas foi assustador. Primeiro tudo tremia e ouvia-se um barulhão incrível. Fui quase sempre de mãos nos ouvidos cheiinha de medo para não ouvir o motor. Via tudo no cockpit, o piloto, co-piloto, as maquinas todas, tudo! Não havia sequer 1 porta, nem é preciso dizer que tb não havia nenhum hospedeiro. Ainda por cima o avião de repente baixava um pouco e como é so mar à volta, eu pensava logo que íamos desta para melhor. Ao chegarmos havia tantas nuvens e começou a sair um vapor do chão.. fiquei logo em pânico e perguntei ao vizinho da frente se era normal ao que ele me disse que sim! Eu devia estar com uma cara tao assustada que ele me disse para não me preocupar que estávamos mesmo quase a aterrar. Logo a seguir comecei a ver os picos da ilha, tudo tao verde e bonito e depois íamos mesmo em cima do mato, depois em terra batida e logo um embate forte na pista e senti um enorme alívio no coração…
A Teresa foi-me buscar ao aeroporto com o sr. Fernando e o sr. Alex, o dono da pensão Palhota onde vou viver.
Todos foram impecáveis comigo mas como seria de esperar o 1º. Dia em qualquer sítio em que vamos ficar por algum tempo a viver é um pouco estranho. Apoderou-se de mim uma tristeza por me aperceber que ninguém conhecido me ia aparecer à frente em algum dia próximo. Estranhei muito o quarto..Tentei pôr na cabeça que são sentimentos normais para o 1º. Dia que certamente me adaptarei rapidamente…
Ao almoço como era bife e eu não como carne, tive direito a provar uns restos de molho no fogo (o prato típico daqui) que a dona Ester tinha feito. Gostei muito! Na parte da tarde fui conhecer a Roça Paciência. Pelo caminho fiquei extasiada, tudo é tão verde, tao virgem, tao inalterado e inexplorado. É tudo tão belo. Depois um pouco antes de chegar á Paciência a estrada está ladeada de sebes de arbustos muito bem podados que torna tudo muito bonito, dá um ar muito ancestral. A estrada está em tao mau estado que o ideal seria percorrer a ilha de cavalo.
Se há o leve leve em São Tomé, no Príncipe há um leve leve elevado a um expoente muito mais alto. Silêncio na rua a toda a hora, poucas pessoas passam, dá-se a volta à cidade num instante, toda a gente mas mesmo toda a gente se conhece. Há falta de muitas infra-estruturas, a energia pára das 15h as 17h30, da 0h às 8h vai outra vez, não há coisas que já são básicas em São Tomé como táxis, garrafões de 5litros e uma farmácia, apenas para dar alguns exemplos.
Terei de me adaptar levemente. E como o vocalista de uma banda que eu idolatrava dizia “o segundo dia é sempre melhor do que o primeiro.” 
Meus “últimos” dias em São Tomé

Depois de um fim-de-semana muito bem passado, no primeiro dia da semana invadiram-me sentimentos de muita saudade. Uma sensação de vazio apoderou-se de mim, assim que fiquei sozinha em casa. Estranhei a casa vazia… ver o quarto da Alex despido, não ouvir a voz dela nem das pessoas que um dia habitaram aquela casa comigo. A minha amiga, companheira, a quem chamo irmã, Gina, apareceu para me salvar da minha melancolia. Passámos bons momentos, revemos os velhos tempos no ilhéu e durante o meu estágio no Pestana. O Clemente, grande amigo, também me acompanhou nos meus passeios e desejos, como foi o caso do almoço na casa da D. Paula. Não podia passar pela cidade e não ir lá comer. A minha comadre, como ela me chama também, estava a assar o típico delicioso búzio do mar, vários chocos e lulas que comemos acompanhados por fruta-pão assada. Foi pena não ser dia da adorada banana pão pontada assada que delicia qualquer pessoa com o bom gosto apurado. Aproveitei para passar por Trás da Cadeia e visitar as minhas amigas Edna e Milita.
Como não poderia deixar de ser fui à praia assim que pude. Fiquei com pena de não ter conseguido ir a uma das minhas praias favoritas que é a praia Governador. Tive de recorrer a praias mais próximas como a praia Emília e a Micoló, o que já soube tão bem. Fui com o Clemente e a Gina para Micolo. Fomos para a praia, foi bem divertido. O mar estava com cores divinais, verde e azul, transparente. A temperatura boa. O sol estava quente e queimava a pele. A sensação é maravilhosa ao boiar naquelas águas salgadas com o sol a bater-me no corpo, olhar o ilhéu das Cabras ao longe e do outro lado o monte onde está a igreja de Micoló. São estas pequenas sensações que preenchem-me o coração e enchem-me o olhar. Fomos almoçar a um barzinho onde a senhora fez arroz com peixinho. Bem, fiquei toda contente por finalmente provar qualquer coisa nova da terra. Peixinho é bom, é o coitado que vem nas redes dos pescadores. O pobre do peixito bebe era quase só olhos. O sabor estava bom pois também o prato estava bem condimentado. Havia uma senhora a vender búzio do mar ainda na concha, antes de ser tratado e cozinhado, ainda estavam vivos. Bem andámos em direcção ao mercado e fomos parando em cada bar para comer qualquer coisa. Fomos beber uma Sagres bem fresca a outro bazrzinho, depois ainda comemos pipocas e maçaroca de milho. Fui visitar a minha amiga Nina lá a casa dela que ia sair para tomar banho ao mar. Depois fomos apanhar carro. Fomos a casa e dps seguimos para a Praia Melão ver Gerry, Minerva e Gersilão, o filhote de 4meses dos dois. Estávamos todos com saudades uns dos outros. A Minerva fez guisado de feijão que estava uma maravilha que até a Gina repetiu! O bebe está bem fofinho, senta-se direitinho, não chora mt…Tirámos umas fotos todos, eu estava cheia de sono quase dormi no sofá enquanto os 3 viam a novela, são uns viciados... Fomos embora de mota e ainda apanhámos um acidente no caminho. Com sorte não havia feridos porque achei os carros um pouco machucados de mais.
Também fiz exercício, fui correr com a Gina, às 6h da manha! Ela não está habituada a correr mas ainda fomos 20 minutos sem parar... Gosto de correr em São Tomé, tem de se sair bem cedo e o sol ainda está a nascer e depois vamos sempre dar um mergulho no mar, o que refresca imenso apesar de a temperatura da água ser amena.
Toda a gente me anda a falar da solidão do Príncipe e a assustar-me mas não há-de ser nada, hei-de me habituar! Tudo está igual pois apenas passou um mês mas sinto mt o calor e a humidade!
Matei as saudades todas (das pessoas que me são mais queridas, da paisagem exuberante, de alguns dos sítios que mais gosto, do calulu, do búzio, do concon, da fruta-pao e banana pao e jaca, de ouvir bulaué pastellin ou sangazuza logo de manhãzinha a acordar..) mas sei que em breve voltarão de novo… A vida é mesmo assim, uma caixinha de surpresas, quando menos esperamos acontece alguma coisa que tudo muda. Há-que saber adaptar às mudanças apesar de não ser nada fácil, não!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

30 de Abril – De volta a São Tomé, será a terceira de vez?
Pela primeira vez na minha curta vida esta viagem de avião iria ser feita sozinha, o que me deixou um pouco triste. A última semana foi preenchida com despedidas e preparações de última hora. Um misto de tristeza, ansiedade e um bocadinho de alegria a querer espelhar-se no rosto, o sorriso de São Tomé na cara a querer despontar. O dia da partida foi uma correria. Pela manhã, uma ida ao mercado e pesar as malas inúmeras vezes até chegar ao número aceitável. Ao almoço: comer os deliciosos pratos que a Joana e a minha mãe tinham preparado durante toda a manhã. Pastéis de massa folhada com bacalhau e pastelão com esparguete. Tarte de morangos. Morangos… No fim de almoço, a parte mais difícil. Foi tudo rápido e menos doloroso. Certamente o que me custa sempre mais é despedir, dar-lhes um abraço com um sorriso e dizer que volto daqui a nada, virar costas e olhar de relance mais uma vez. Depois pensar positivo e tentar controlar as emoções. Até chegar ao aeroporto viajei bastante em óptimas companhias! Obrigada minhas amigas Ana, Sofia, Rita e os meus tios de Lisboa, Berto e Zinha que têm muita paciência!
A viagem de avião foi estranha por ir sozinha mas já estou em São Tomé há mais de um ano e claro que conhecia algumas das pessoas que iam comigo no avião. Sou uma medrosa, sempre q há um bocadinho de turbulência penso logo q o avião vai cair! Ainda por cima ia sentada ao lado de uma senhora já de idade que só falava crioulo e me estava sempre a pedir informações… Até foi engraçado porque eu percebia e respondia em português mas ela ouvia mt mal, então eu tinha de lhe berrar…
Para agravar o meu medo no inicio o piloto disse que íamos acompanhados pela figura da Nossa Senhora de Fátima portanto que nada iria acontecer.. Eu fiquei logo a pensar que havia uma grande tempestade pelo caminho que seria complicado de ultrapassar. Enfim, ate sonhei q o mesmo avião andava a descer e subir, sempre quase a cair, sem equilíbrio...estava a ser tão real, mas depois acordei com o hospedeiro de bordo mais simpático que já conheci a querer servir-me o pequeno-almoço... Depois vi o nascer do sol e comecei a ver o mar e algumas baías da ilha…tive de novo muito medo ao aterrar pois mais uma vez a pista parecia inexistente…De repente ouve-se o estrondo do embate e umas lágrimas escorreram dos meus olhos ao sentir-me em terra (que alívio) e nesta terra… Quem veio no avião comigo foi o D. Duarte acompanhado por um ex-bispo de São Tomé e ainda a estátua da Santa.. Por isso o aeroporto estava tão cheio...com freiras e muita gente. Nem estava a perceber porquê tanta euforia! Depois à saída do aeroporto começam a aparecer caras conhecidas e lá estava a Gina e que grande abraço ...fui cumprimentar algumas pessoas q conhecia (Godi do Mama Africa, Walter e António do Omali) e depois chegaram os atrasados, o Humber com o Clemente! Fomos para casa e estivemos na conversa, foi tão bom estarmos juntos outra vez! Depois foi só matar saudades :) À hora de almoço fomos almoçar ao B24 no Parque Popular – peixe vermelho grelhado com banana frita, arroz e legumes salteados. No fim como era o aniversário da cidade de São Tomé havia actuações no Parque. Fomos ver um grupo de Danço Congo. Ri-me tanto, é um grande teatro com música ao vivo e dança com roupas esquisitas e máscaras. Falam em crioulo. O melhor, sem dúvida, era as batucadas! O Humber tinha de me traduzir o que diziam. Fartei-me de rir com o conteúdo da dança. Ainda vi uma subida a 1 coqueiro muito efusiva, com um louco a ir abanar a árvore para ver se o moço caía e este em resposta desce de cabeça para baixo, com muito aspecto de quem “tomou santo”. Ou talvez um pouco de aguardente a mais. A verdade é que estava com uns olhos de quem não estava ali não. Parece que a tradição e cultura local querem dar-me a volta à cabeça…Foi mt bom voltar a andar pela cidade, vazia por ser fim-de-semana. Entrar em Oque del Rei e ouvir as pessoas a chamar o meu nome e perguntar como foram as férias ou onde eu estive. Ver aqueles sorrisos bonitos e sinceros. É gratificante.

domingo, 3 de abril de 2011

29 de Março de 2011 - Home sweet home
Acordei por volta das 9h30. Ando a dormir de mais… pelo que já averiguei que é o que está a acontecer a todos os/as outros/as que estão em ressaca emocional. Sentindo a falta do calor, não dá muita vontade de sair. Mas hoje tenho algumas coisas a fazer e fico feliz. Visto o roupão (que diferença para quem andava quase meia-vestida:P) e subo as escadas, indo em direcção à cozinha, guiada pelo cheiro familiar das torradinhas matinais…
Sabe bem estar em casa, não fosse este frio horrível tudo seria perfeito. Já toda a gente acordou, sou mesmo a última o que era raro acontecer! Fico a saborear as minhas torradas lentamente enquanto leio o jornal do dia anterior e bebo o sumo natural de laranja. No fim lá vou eu preparar-me para a reunião de proposta de emprego no Skype. Estas novas tecnologias têm coisas boas! Afinal nem estabelecemos chamada nem nada, foi tudo escrito o que foi óptimo! Fiquei entusiasmada e muito pensativa com a proposta. É realmente boa! Tenho uns 15 dias para ponderar… Estive a falar com a Jo e o Daniel sobre isso e depois com a minha princesinha. É bom ouvir conselhos dos nossos mais queridos! Bom, com tudo isso no pensamento saí um pouco para ir ter com duas pessoas que sentia muita falta e que nos últimos 5 anos têm sido como irmãos para mim, a Sofia e o Berna. Estavam sentados nas escadas do prédio e fui a correr abraçá-los!! Foi muito bom! Estivemos a pôr um bocadinho a conversa em dia e a saber as novidades uns dos outros, mas depois tanto um como o outro tinham de ir às suas vidas atarefadas, como é natural. Combinamos estar em contacto por telemóvel para os próximos fins-de-semana que eles vierem à terrinha… Despedi-me do Berna e fui levar a Sofia a casa. Vivemos todos muito perto, o que sempre deu muito jeito para todas as nossas aventuras!
Voltei para casa pensando como tudo continua cinzento e com muitas obras nesta cidade. Nunca há-de ser o que foi, “Vila do Conde, espraiada entre pinhais, rio e mar, lembro-me de Vila do Conde já me ponho a suspirar.” A Sofia disse-me que foi ver ao Google Earth e que as únicas manchas verdes que se vêem são o parque da cidade (que é o que nós sabemos, um parque muito pobrezinho) e a Quinta do Engenheiro! É uma tristeza! Uma cidade que era tão bonita na juventude da minha avó, ano após ano, tem vindo a tornar-se escrava do betão e das grandes construções urbanísticas… Cada vez mais penso que se um dia tiver que viver aqui de novo não vai ser assim tão difícil me habituar e adaptar mas sim difícil será estar feliz rodeada de tantos abortos urbanos e antigos espaços verdes mortos pela acção de uma equipa municipal que há 30 e tal anos só degrada o ambiente natural onde vivemos! Tirando estes pensamentos da cabeça e um pouco resignada caminho para casa para ir almoçar. Depois de o fazer um pouco à pressa, parto para ir apanhar metro para o Porto para ir ter com a minha irmãzinha, Inês. Mais uma realidade engraçada, todos os velhotes que estão dentro da carruagem estão a dizer que vai chover, vai chover… Nós portugueses muito gostamos de comentar o tempo!! O metro estava cheio, ainda liguei o MP3 mas depois é que reparei que no avião devo ter adormecido a ouvir e ficado sem bateria porque nem a 1 música tive direito! Depois de olhar algumas paisagens que eu gostava de observar antigamente, viro-me para a leitura do livro sobre a vida de Francisco Tenreiro, intelectual santomense que viveu a maior parte da sua vida em Portugal. Quando cheguei à Lapa fui ter com a Inês à antiga casa da Tia Belinha, onde ela e a Raquel agora vivem durante a semana. Estavam as duas stressadas, a Raquel a estudar para um exame e a Inês que não conseguia pôr o rolo da sua nova máquina fotográfica analógica. Depois de uma visitinha pela casa que apesar de um pouco desarrumada até está bem decorada por elas , saímos para o nosso passeio! A chuva fez-nos parar um pouco reticentes, mas lá seguimos pela rua de Cedofeita abaixo rumo à Santa Catarina. Fomos animadas, conversando sobre os últimos meses, falando do Natal e dos sítios que elas costumam frequentar ao passarmos por eles. Parámos numa sapataria e fiz umas compras! Fomos a uma loja muito engraçada ao lado da famosa Livraria Lello que vende todo o tipo de objectos com 1 decoração moderna e bastante bonita. Ela esteve-me a contar a história da prenda de Natal da Clarinha, nossa amiga de infância que é como se fosse da família. Pelos vistos o triciclo dela que nós tanto adorámos quando éramos pequenas foi deitado fora há pouco tempo pelo pai. Quando ela soube ficou desolada! Então as gémeas (tão queridas) lembraram-se de lhe oferecer um pelo Natal.. Viram um numa loja de artigos feitos à mão, todo feito em madeira muito bonito e pormenorizado e compraram-no. Pediram à senhora da loja um embrulho de Natal o que não foi nada fácil e andaram pelas ruas do Porto com aquele monstrinho ao colo!! Deve ter sido uma risota!!
Fomos vagueando por umas ruas antigas e depois fomos espreitar a FNAC ! Novos livros e cds, estou um pouco desactualizada! Andei à procura de livros de estudo sobre gestão hoteleira e controlo de gestão. Vi alguns interessantes. Seguimos subindo pelas ruas e parámos numa pequena praceta onde ela tirou uma foto com uma das suas super maquinas, esta uma DIANA muito linda, decorada com corações, setas e maçãs, pois é alusiva ao dia de São Valentim! Foi uma pena não estar sol, pois assim não estava bom para fotos! Na Trindade fui apanhar o metro e despedimo-nos na estação da Lapa quando estávamos as duas bem animadas! Voltei para casa desta vez acompanhada por mais jovens. Por acaso à minha beira sentaram-se uns 5 de cor negra, automaticamente pus-me a pensar se seriam santomenses mas tinham mais pinta de angolanos. Fiquei sem saber ao certo. A viagem deu-me sonolência de abuso e fui a pensar e a sonhar meia acordada. À noite já em casa estive na conversa com a minha mãezinha no quentinho da cozinha enquanto ela preparava o jantar, postas de atum grelhado com arroz e umas couves cozidas! No fim, comi uns pedacinhos de chocolate Corallo…humm mas que delícia! Estive na net na conversa com o pessoal e depois por volta da meia-noite fui-me deitar. Ainda não dei conta de estranhar a cama mas a Marta, minha companheira de quarto, já me disse que já gritei “mas onde é que eu estou??” É natural…
26/3/11 Despedidas e reencontros - um misto de tudo no coração!
Nos últimos dias andámos nas despedidas às nossas pessoas queridas, a tratar de alguns assuntos sérios e a comprar algumas coisas para levar para Portugal.
Andámos no mercado novo à procura de batata doce, banana-pão, matabala, peixe salgado, o pau pimenta e ossami. As duas estávamos com ideias de cozinhar comida santomense em Portugal, nomeadamente o molho no fogo e a izaquente. Também comprámos tecidos africanos e encomendámos umas roupinhas no costureiro e na nossa amiga estilista, a Tete, para oferecermos a amigos e familiares!
No último dia choveu muito, assim como lágrimas dos nossos olhos. Já estávamos a pensar "e se não voltarmos mais? o que será de nós sem estas pessoas?". Acabamos sempre por nos afeiçoar muito, tanto às coisas como às pessoas! Sempre fui muito saudosista, é algo tipicamente português, está no nosso sangue! Esse dia foi particularmente difícil por termos andado pela casa da Ayaya e no quintal da Gina a despedirmo-nos. A acrescentar a isso, fiquei um pouco desesperada por não conseguir resolver um problema que tinha de ficar resolvido antes de partir. Depois como agir quando se vai partir e deixar alguém para trás? Tentamos lidar com o vazio que já antecipámos no nosso coração mas não é nada fácil.
Acordamos às 4h da manhã. Normalmente a estas horas a preguiça no meu corpo é muita. Neste dia ainda foi mais. Não queria deixar o calor e conforto da minha cama para ir para aquele aeroporto esperar e engolir as mágoas! Aqui não se chora à frente dos outros, nem se beija nem se abraça muito mas que se danem os preceitos! Contou-me a Susana que no dia anterior lhes chamaram chorões e “que pouca vergonha”. Será que não sabem o que é sentir de verdade?? Questões à parte, depois de fechadas as malas e de dar uma última vista de olhos à casa saímos os 4 para o táxi. Estava ainda tão escuro, todo aquele cenário, a escuridão, o silêncio deram-me a sensação de estar a fugir de algo. Nem música havia. Foi estranho. Tentei pensar positivo e não me entristecer com a situação. O aeroporto já estava cheio de gente. Fomos pagar as taxas e depois fomos logo despachar as malas para podermos ficar lá fora e despedirmo-nos com calma. Depois de um tempão durante o check in, finalmente fomos lá para fora ter com eles e a Gina e 2 pessoas nos pediram para levantar malas à chegada a Lisboa e tb para entregar um envelope a uma senhora. Era fácil nos reconhecer, pois estávamos as 2 com as típicas trancinhas, não havia mais portuguesas com cabelo trançado no aeroporto. Por fim, lá chegou a hora de entrarmos pois já não se via quase ninguém fora. Últimos abraços e palavras e fomos as 2 para dentro. Ainda comemos qualquer coisa no recente bar do aeroporto, agora também com uma loja com coisas típicas da terra. Depois fomos as 2 a choramingar em direcção ao avião, abraçámo-nos e fomos das últimas a entrar. Voar assim com aquela sensação de incerteza de regresso é tão estranha. Olhei pela janela e só desejei gravar aquela imagem na minha cabeça para sempre –o mar lindo de tantas cores, o verde e as casinhas ao longe, as praias douradas tão convidativas… Mas o que disse à Alex e o que penso é que se queremos mesmo voltar, se é a nossa vontade, se é o que nos faz feliz, então vamos voltar! Ninguém nem nada poderá impedir isso!
Dormi bastante durante o voo e tb li um pouco. Foi um voo calmo sem turbulência alguma, mas ainda demos as mãos na aterragem pois estava cheio de nuvens e o avião a descer, a descer, sem vermos nada. Aterrar em Lisboa é sempre horrível para mim. Precisava de adormecer nessa altura para não ficar cheia de medo mas nunca acontece como é óbvio! Mal saímos do avião sentimos o frio a entrar pelos nossos poros! Aiiii!! Na recolha de bagagens ficámos muito tempo à procura das malas que nos tinham pedido para levantar. Tínhamos um tecido para cada mala e era pelo tecido que íamos reconhecê-las! Estavam bem pesadas! Foi de rir para metê-las nos carrinhos! Abrimos para ver do que éramos responsáveis e como já esperávamos era tudo comida – fruta-pão, matabala, izaquente, peixe salgado, safu, entre outras coisas típicas! A Alex ainda levou 1 fruta para casa que tinha pedido à pessoa que nos pediu para as levantar  Foi muito esperta! A senhora que ia buscar o envelope ligou-me a dizer que estava de lenço na cabeça e casaco e bege e à saída havia muita gente… Vi logo o meu tio e tia de Lisboa que me vinham buscar mas depois apareceu logo a mãe da Gina para lhe dar o que ela e a Edna tinham mandado! Era só gente à nossa volta, até parecíamos importantes! Entregámos as “encomendas”, agradeceram-nos muito e fomos a correr para as nossas famílias! O piqueno da Alex foi logo a correr para ela, todo fofinho. Fui ter com os meus tios, cumprimentei a família da Alex, despedi-me dela com um abraço e estávamos a ir para a saída do aeroporto quando vejo a Rita! Fiquei toda contente e demos um grande abraço! Mas infelizmente tinha de ir apanhar o comboio para o Porto e já não havia muito tempo! No caminho para lá fomos a pôr a conversa em dia toda entusiasmada que nem reparei na multidão e confusão da capital portuguesa! Já na estação rapei um frio e pior de tudo foi levantar a minha mala que está toda arrebentada nas rodas e no mecanismo de puxar e pô-la dentro da carruagem sozinha. Devia estar a fazer uma figura… A minha sorte foi a ajuda de um senhor! A viagem de comboio deu para dormir mais já que na noite passada não tinha dormido muito. Sempre gostei da sensação de andar de comboio, passar as fronteiras, ver a mudança de paisagens, ouvir a mudança das línguas e das cores sentada num banco dentro de uma carruagem. Tive a sensação de estarmos a ir a uma grande velocidade e não consegui apreciar a paisagem. Contudo a par da bicicleta o comboio continua a ser o meu meio de transporte preferido! Lembrei-me dos interrails que fiz…
Bom, finalmente estava a chegar ao Porto e a ficar toda entusiasmada por ir matar saudades! O meu irmão foi buscar-me à estação, mal saí do comboio vi-o logo todo bonito a sorrir para o seu Pitéu  Demos grande abraço e fomos embora. Ainda tivemos uns 15 minutos a falar com a Selma, filha da minha vizinha de Oque del Rei a D. Lena, que me tinha pedido para levar 1 grande saca para ela! Tudo coisas para o calulu! Ela veio acompanhada do namorado caboverdiano, tb muito simpático! Ficámos os 3 na conversa algum tempo, gostei mt dela. Já está em Portugal há 8 anos, está a estudar Turismo. Convidou-me para ir a casa dela comer o calulu quando fizessem! Enfim, passadas tantas horas lá cheguei a casa. Estava toda feliz…ao barulho da mala a percorrer a varanda do prédio, a Inês, a minha mãe, a Jo e a minha priminha Ana vieram logo à porta abraçar-me e dar-me beijinhos! Estavam com muitas saudades assim como eu! A minha prima estava com o coração aos saltos, o que teve muita piada! Fui à sala porque o meu pai e avó estavam lá em pulgas! Foi tão bom abraçá-los de novo! Tb estava o meu primo Pedro e a namorada e depois foi chegando mais gente! O meu pai e irmão tinham feito anos nessa semana, então tinha pedido à minha mãe para fazer uma festa para eles e aproveitar que eu chegava! Gostei mt, havia tanta comida que eu gosto, a quiche de legumes, a tarte de camarão e delicias do mar, a bôla, o caldo verde, os rissóis de camarão, patê de atum e tostas, salame de chocolate, gelado de morangos, tarte de chocolate e bom vinho! Uma maravilha! Estive na conversa com toda a gente, soube mesmo bem! Ainda tive direito a prendas de natal e tudo! Foi uma bela festa! Estar em casa, sentir o cheiro da casa, estar com toda a família foi tão bom!

terça-feira, 22 de março de 2011

16/03/11
Para este dia tínhamos planeado ir conhecer algumas roças do norte da ilha. A manhã estava fresca com um ventinho a soprar agradavelmente. Encontrei-me com a Susana em plena Praça da Independência depois de ambas despacharmos os nossos assuntos pendentes. Liguei ao meu motoqueiro dos passeios, o Mr. Pik, para termos uma pequena aventura a meio da semana. Depois de estabelecermos um bom preço (amigos são para as ocasiões) o Pik foi até ao bairro do hospital buscar outro motoqueiro porreiro. Pelos vistos não foi fácil porque todos pediam mais de 150 mil dobras e o preço estabelecido tinha sido metade desse valor! Lá voltou com um Gualter e lá partimos, primeiro rumo à Bela Vista. No caminho para lá ainda consegui tirar umas fotos à Susana na mota, o que é sempre mt divertido de se fazer! Mais uma vez a paisagem verdejante a rodear a estrada…apenas algumas casinhas a quebrar o ritmo dos cacaueiros, bananeiras, fruteiras e outras árvores maiores! Em Bela Vista fomos ver o cacau a secar, que desta vez tinham disposto em estufas… Estava um cheiro muito mais intenso do que normalmente! Forte de mais que até enjoava! Continuamos a visita pela Roça, passamos pela creche e a educadora veio cumprimentar-nos à porta, onde levou dois miúdos a fazer xixi mesmo à entrada da escola…Viraram-se um para o outro e baixaram as calças…Claro que nós ficamos as duas a olhar um pouco chocadas! Fomos ver outros edifícios onde guardavam as ferramentas e tivemos de aturar um senhor um pouquinho doido que nos perguntou se não tínhamos medo de estar em África…ao que obviamente respondemos que não. E ele a insistir falando de elefantes e cobras, dizendo que se fosse para a nossa terra também ia sentir medo! Bem, lá escapamos à conversa mesmo a tempo de os motoqueiros nos encontrarem. Fomos conhecer a sanzala! Aquela já não tem o formato original em forma de quadrado com os tanques no meio…Muitas construções “modernas” feitas de madeira encontram-se no meio. Eles queriam beber o vinho de palma que estava à porta de uma tasquinha, supostamente bem fresco apesar de exposto ao sol mas a senhora que vendia não estava em parte nenhuma. Fomos seguindo e cumprimentando as pessoas com as criancinhas todas a virem atrás de nós… Parámos numa casa onde tinham feito uma estrutura para secar roupa ao sol. Dois troncos na vertical, espetados no chão e ao meio na horizontal uns três troncos! Estava bem feito, artesanal mas fixe! Ficamos a tirar fotos quando as senhoras da casa em frente nos chamaram para tirar foto a um bebe de poucos meses muito clarinho. Depois conhecemos a irmã dele, ocossô, albina. A miúda era bem bonita com um cabelo loirinho todo entrançado, com as trancinhas espetadas no ar! Muito fofinha! As senhoras eram bem simpáticas, sem problemas por estarmos a tirar fotos. Estavam a escolher a izaquente que iam cozinhar ao jantar, izaquente de azeite! Ainda perguntei se iam vender ou se fariam ao almoço para passar lá para comer. Estou com desejos de izaquente! Pelos vistos o Pik foi cozinheiro no ilhéu e já se estava a oferecer para fazer para mim! Heheh.
Depois de umas fotos com as crianças seguimos nas motas para a próxima paragem, Boa Entrada! O nome diz tudo!! Uau! Nunca vi uma Roça tão bonita! Deve ter sido certamente uma das Roças mais importantes ou então pertencia a um dos administradores mais ricos! A casa principal era um autêntico palácio, mas que pena tão mal conservada a cair aos bocados, como quase todas as casas coloniais das roças! Fiquei pasmada, imaginando a beleza daqueles edifícios noutra época, antes do 25 de Abril, por outro lado, a Susana ficou triste imaginando o desperdício! As crianças da roça vieram logo receber-nos com os habituais “amiga, branco, branca tira foto”. Levaram-nos a conhecer a chota, que não estávamos a perceber o que era. Entramos na casa e percebemos que falavam do sótão! Sinceramente a casa deve ter sido um espectáculo, o que eu dava para retroceder no tempo e viver um dia naquela época para poder ter noção de tudo! Vidros partidos, azulejos retirados, muito vandalismo! Mas por outro lado marcas da riqueza da casa, boas portas, banheiras nas casas de banho, suites, lareiras, marcas de candelabros, chão ainda com ornamentação e melhor que tudo Elevador!!! Que espectáculo! Montes de quartos e lá em cima o sótão, com o telhado ainda em bom estado, apenas com o chão com alguns buracos. Denota-se a arquitectura bem pensada da casa – uma boa construção! Depois apareceu o suposto guarda da casa que vinha com uma pedra na mão, um velhote desdentado todo chateado por não termos pedido permissão! A casa assim a cair aos pedaços e ele está a guardar o quê, perguntamos nós. Só se for um dos compartimentos que serve para a realização das sessões da Igreja Maná… que grande desperdício! Fugimos do senhor e fomos conhecer as outras casas dos portugueses que trabalhavam na Roça. Deviam ter sido boas casas, mas agora todas descaracterizadas ou esburacadas com cada família a ocupar o seu quartinho! Em frente a essas casas há a escola primária da Roça e foi aí que reparámos nos dois pilares que antigamente suportavam os portões da Roça, ao fundo da estrada. Virámo-nos para o palacete e então é que vimos a frente da casa! Que luxo!! Para além disso, o que mais me surpreendeu foi a beleza das casas da sanzala… Todas seguidinhas em várias filas divididas por ruas, com um telhado em bico, todas iguais, terminando com um monte ao fundo! Muito bonito, a mais bonita que já vi, sinceramente! Apesar da fome já se fazer sentir (e que 4 se juntaram) ainda tínhamos mais uma roça para conhecer, Monte Macaco! Finalmente ia conhecer a roça que o meu tio-avô conhecera há mais de 35 anos! Tinha de fazer isso por ele e pela minha curiosidade também! Bom, depois de se ir a Boa Entrada qualquer outra roça já não surpreende! Então Monte Macaco é bem pequeninho! Arranjámos uma guia, uma senhora que tinha trabalhado na roça enquanto esta ainda funcionava! A senhora, de origem cabo-verdiana, bem simpática, explicou-nos que a sede era em Boa Entrada e que esta era uma dependência mas que depois do 25 de Abril a sede passara a ser Bela Vista, o que nós estranhamos um pouco! Foi-nos mostrar a sanzala e esta já tinha os tanques ao meio rodeados pelas casas! Contornámos o sítio sempre com as crianças atrás de nós todas divertidas! Passámos pela entrada de uma casa onde estavam sentadas uma senhora mais velha com mais duas raparigas, uma delas carregando um bebe bem pequeno. A senhora mais velha chamou-me perguntando se eu já estava em São Tomé há algum tempo ao que eu respondi que sim. Ela disse que alguém me estava a reconhecer… E eu disse “ahh” e bazei! Nem quis saber de onde mas ela também não pareceu muito entusiasmada para falar mais! Subimos pras motas já a pensar no almoço…nós na comida, eles nas bitolas. No caminho parámos num bar com bom aspecto que ficava na estrada rodeado de mato chamado “loja Europa”. Ainda comprei umas hortaliças a um preço bem mais barato que na cidade. Pelos vistos estávamos em Maianço, mais uma zona! A paragem foi para beber uma cerveja cada um e para o Gualter cumprimentar familiares! Hehe. É impressionante como têm família em todo o lado! Ainda tive uma conversa sobre o machismo em São Tomé com um polícia que tinha ido lá comprar grades de Rosema! Veio com uma mulher, ela é que teve de carregar as grades todas para dentro da carrinha. Todos os homens estavam a olhar…por acaso o Pik conhecia a moça e começou a ajudá-la, ainda por cima estava um sol arrasador! O ar fresco que sentíramos lá nas Roças tinha desaparecido! Depois disso queríamos almoçar mas os sítios onde fomos averiguar em Santo Amaro eram caros… Então virámos em direcção a Conde. Não é que fomos parar ao mercado local onde até fomos bastante bem recebidos! Ahaha. Foi de rir. Primeiro arranjaram-nos uma mesa minúscula…A Susana sentou-se num mocho e ficou mt cómica, mesmo assim ficava bem alta! Havia pintado com peixe voador cozido! Mas desta vez o pintado era especial, com coco! Uma maravilha, na minha opinião de gulosa! A conversa foi animada com os rapazes a contarem as peripécias deles, o prejuízo de levarem mulheres na mota, as aventuras, as partilhas… Para eles é normal a partilha, segundo o Pik há para todos “um cadinho para mim, um cadinho para ti, um cadinho para ele.” Ali entre nós, as duas pensámos “mas que nojo.” Há quem responda que é a cultura, outros que é o calor, para nós não é nada bonito! Mas se elas se prestam a isso, não se importam, o mal é delas! Sinceramente já nem digo que o pior é o homem, pois vejo cada uma, ouço cada história que já estão os dois no mesmo patamar! Claro que não podemos esquecer que há sempre excepções! No fim a moça que vendia a comida já queria aumentar o preço para 25mil (sabe-se lá porquê) mas foi contra-argumentado e como não poderia deixar de ser a gente conseguiu o que queria! Comigo e com a Susana podem se meter mas não têm muita sorte!! Depois de um safu como sobremesa (lol) seguimos para a cidade pois queríamos ir à inauguração de um novo espaço para a qual tínhamos sido convidadas pelo vizinho simpático, o sr. Carlos e tb pelo Betinho. Mas, infelizmente, não demos com o sítio! Tanto eu como ela que tínhamos visto o sítio com o senhor não o conseguimos encontrar… Foi muito mau, tive a sensação que aquele sítio tinha sido engolido pelo espaço! Que fantasiosa! Bom, vimos uma senhora a vender banana assada em frente ao IDF, ainda íamos comprar mas esta abusou no preço só porque a gente tem outra cor. Que lata, a pedir 10mil quando é sempre 5! Não comprámos e bazámos para as respectivas casas! Foi um bom passeio!

terça-feira, 15 de março de 2011

14/3/11 A volta ao ilhéu cerebral de uma portuguesa inconsciente

Sabem quando estão a viajar no estrangeiro e de repente ouvem alguém falar português, olham à volta admirados à procura e depois percebem que é mesmo alguém do nosso país? Uma conversa aqui, outra conversa ali e depois da euforia inicial de encontrarmos outro tuga fora do contexto natural, ficamos a pensar “só podia ser português” e retirámo-nos um pouco embaraçados.
Pois bem, em São Tomé é a mesma coisa. Excepções à parte, as frases indelicadas; as situações embaraçosas que tive de resolver em contexto de trabalho; os criadores de fofoca e intrigas; os exploradores pois admitamos ou não, existe exploração do homem pelo homem bem perto de nós; aqueles que a todo o momento dizem que querem ir embora mas continuam cá a sugar o cacau da terra, são portugueses. Não entendo porquê que estas pessoas que não gostam do país onde vieram parar, como exilados quem sabe, fechados em ambientes próprios por livre vontade ou vontade de outrem, continuam a fazer num país que menosprezam!
Eu sou portuguesa e tenho muito orgulho na minha Pátria mas fico com vergonha de partilhar com essas pessoas a nacionalidade. Para essas determinadas pessoas que friso, DEVIAM TER VERGONHA DOS BICHOS QUE SÃO, todo o cuidado é pouco. Apenas vos deixo alguns exemplos das dezenas que podia referir. Já ouvi falar que para comer só em dois cafés/restaurantes supostamente bem “reputados” pois os bares (aqui não tem o sentido do nosso bar, é o espaço onde se pode beber1 copo mas onde também servem refeições quentes) são mal frequentados e não têm higiene nenhuma, quando na verdade come-se o mesmo da mesma maneira, às vezes mais saboroso, feito pelos mesmos e a um preço mais acessível. Ouvi dizer que para a visita a certos ilhéus devemos levar o cadeado na cueca. Também me chegou aos ouvidos que contacto com a população local só em contexto de trabalho e calma aí, cuidado com as confianças, porque nós portugueses sejam quais forem as hierarquias somos sempre superiores…
Ironias à parte, já ouvi dizer coisas tão insultuosas e disparatadas sobre a negritude que a minha vontade foi fugir, atirar-me para baixo da mesa e até desaparecer com tanta vergonha desses meus compatriotas. Não vou reproduzir pois mentiras e estupidezes de nada servem serem reproduzidas e estaria a insultar, mais uma vez, a população humilde que me recebeu de braços abertos, os desconhecidos que me cumprimentam na rua sem pedirem nada em troca para além de uma palavrinha e sorriso, as pessoas que sorriem com o olhar e que às vezes é o que dá força e alegria para encarar a noite, vizinhos que ajudam à primeira dificuldade apesar de pouco terem; amigos e amigas, boas pessoas, com princípios e valores, pessoas inteligentes e corajosas muito estimadas por mim e por muitos. Não entendo como alguém pode ter tanto ódio, querer tão mal aos outros, ser assim racista e preconceituoso até ao tutano. Será que há cura para toda essa encenação em que vivem?? A denúncia da exploração do homem negro pelo homem branco devia ser bem estruturada e argumentada.
É muito triste que no século XXI ainda existam discrepâncias tão grandes a nível de salários só porque se é de outra cor, de outro país. Como é possível que numa empresa haja uma maioria de chefes de departamento caucasianos a ganhar em média mais de 1200 euros por mês e por outro lado os locais a ganharem uma média de 40€? Não entendo quem consegue viver com isso na consciência e nada faz. Para mim é ultrajante. Revolta-me. Era necessário que os locais dissessem que BASTA, unirem-se para uma greve, exigirem melhores condições de trabalho e humanas. O problema é que por questões históricas, associadas à gestão portuguesa das roças aquando do período colonial, estas pessoas têm medo, muito medo…hoje em dia já não é de serem chicoteadas e espancadas até à morte, mas sim de perderem o seu mísero salário e não poderem com o pouco que ganham ter pelo menos dinheiro para alimentar as suas famílias e ter alguns confortos. Falta mudança de mentalidade colectiva.
Estas pessoas, estes portugueses de boca suja não deviam estar aqui rodeados por esta beleza natural fantástica, estas maravilhosas praias e ilhéus mágicos, pois ao mesmo tempo que usufruem e bem, muitas vezes às escondidas fugindo para os recantos mais puros e intocáveis, as suas bocas estão a sujar e a maldizer as ilhas, o seu mítico leve leve e os locais.
Eu sou portuguesa mas sou também cidadã do mundo. Adapto-me bem à diferença e à mudança. Tenho gosto em conhecer tudo, sou curiosa, gosto de aprender. Sou amante da cultura, nesse campo tudo me fascina. Nada há mais natural que o contacto com os locais num país desconhecido. Viver é isso mesmo; sentir, falar, trocar experiências e saberes, fazer amizades, amar, rir e sorrir para quem quisermos. Tenho pena de quem vive dentro da peça de teatro que encenou e criou, sonhando com a pátria longínqua. Seus miseráveis, acordem… todos somos do mundo!

11/3/11 Uma lufada de ar fresco chamada Susana

Recebi em minha casa uma nova hóspede. É sempre bom, a casa fica com outra vida, a rotina muda e a energia dela espalhou-se agradavelmente pelos nossos espíritos. Foi pena não ter recebido a Susana no primeiro dia mas tinha de trabalhar naquele que foi o meu dia de regresso ao hotel após a minha doençazinha.
Aconteceu uma coisa engraçada. Sabem quando conhecem alguém pela primeira vez e após umas horas de conversa, a sensação é de que já se conhecem há muito tempo? Pois é comigo e com a Susana foi assim. A cada assunto novo, mais uma coincidência. A nível de personalidade, temos muitas semelhanças mesmo. Gostamos ambas de comer muito e somos poupadinhas. Regatear preços com motoqueiros é connosco. Tudo isso e mais uma série de coisas íntimas que nem todos precisam de saber, mas até chega a ser assustador… Ela diz que parece que estivemos a ler sobre a vida uma da outra!
Durante estas duas semanas temos passeado bastante pela cidade principalmente. Andámos a pé percorrendo cada rua e esquina da cidade assim como cada restaurante, bar e grelha de rua procurando, ora o calulu ora a banana pontada assada. Fui encontrando alguns amigos e fui apresentando a minha nova amiga. Como costumam dizer que eu e a Alexandra somos irmãs, de mim e da Susana perguntam se somos gémeas! Tem imensa piada! Se vissem alguma das minhas irmãs acho que desmaiavam por causa das reais semelhanças! No Carnaval andámos atrás do desfile percorrendo todo o centro da cidade e acabámos por ser a atracção principal, vestidas de gémeas….
Conversámos tanto que às vezes na estrada me distraí e pus o pé nas poças de água e lama. Fomos nadar à Praia Emília e no Museu Nacional subimos até ao Farol, as duas com um pouco de vertigens mas cheias de vontade de tirar a foto de praxe lá em cima! Estava vento e cheirava fortemente a maresia, que sensação boa a da maresia! Comemos na rua e gostámos muito, ficamos bem cheias na D. Paula depois do búzio do mar, da fruta-pão com choco e da divinal banana assada pontada! No dia do Bocado, não comemos um bocado do calulu dado numa colher à boca pela avó a cada familiar sentado numa esteira no quintal como é tradição, mas sim um prato cheio, mesmo aqui em frente à minha casa. Os vizinhos são muito doidos, cada conversa que a gente riu de abuso. Fomos comer à D. Teté e depois fomos à Happy Hour do Passante, que modéstia à parte, estava tão fraquinha. Muito vazio, com pouca gente a dançar, ao que se chama aqui um ambiente frio. Deu saudade do Café Companhia. Ouvi dizer que vai reabrir com nova gerência, o que são boas notícias! Depois ainda fomos conhecer a discoteca Dj Cabelo perto do aeroporto na companhia do Humber, Apolo, Élvio, Juan Carlos e mais um pessoal habitual das festas. O ambiente também não estava nada de especial, mas deu para matar a vontade de dançar o que foi bom. Senti falta da minha Alex, do Clemente, da Rita, da Gina.
No domingo dia 13 de Março fomos ao Ilhéu das Cabras. Depois de algumas complicações e atrasos iniciais lá partimos – Susana, Élvio, Marisa, Águeda, Clemente, Humber e eu. A viagem foi feita num bote bem mais pequeno e raso que o carioco. O pessoal ia quase todo assustado, vi a Águeda agarrar-se aos dois meninos que estavam sentados ao lado dela, a cara do Clemente assustado ao entrar no barco, tremendo por todos os lados. Muito bom! A paisagem brutal e a sensação única, a saudade de estar no meio do mar, ali tão perto de me tornar sereia, espuma, concha e areal como contam as minhas fantasias, ali onde me sinto tão perto dos meus antepassados, onde as minhas energias se revitalizam. A proximidade do ilhéu das Cabras, pensando que finalmente ia explorar aquele cantinho que todos os dias me fixa e chama. A chegada à praia foi bonita. Via-se o farol lá no alto, ao olhar parecendo inacessível...um contraste entre o verde da vegetação e as muitas rochas da ilhota. Aproveitamos o mar, demos mergulhos do bote, fomos comendo. Recebemos companhia, por acaso nesse grupo vinham uns conhecidos meus do Bairro do Hospital, o que foi bom. Fomos subindo, com objectivos de ir até ao Farol. Encontrámos uma praia paradisíaca no expoente do termo! O meu deslumbramento instantâneo levou-me a descer até às rochas, despir-me rápido e atirar-me àquelas águas cristalinas. Pimba, um monte de ouriços a picar-me o pé. Ouriços com pico grandeê. Ké Kwá! Depois de retirado o grandalhão com o canivete fomos todos para o mar aproveitar aquela maravilha que nos esperava. Aquela praia era rodeada de rocha e num dos lados havia uma gruta. Lembrou-me a zona sul do ilhéu das Rolas. Muito lindo. Tirámos fotos para a posteridade! Passada uma boa meia hora ou mais seguimos para o Farol. Ao subir havia carroço para comer apesar de muito margoso. Ninguém se lembrou de levar água e já fizemos a viagem na hora de almoço. Havia caminho feito - umas escadas que eram um pouco altas demais. O que me fez esquecer a sede foi olhar para trás quando me virava! Que paisagem, que beleza, palavras para quê?? Ir embora porquê?? A minha vontade foi levar ali a minha família e amigos para verem todo aquele mar, aquela cor de água, a beleza natural no seu expoente! Via-se toda a costa de São Tomé norte, desde o pontão do Pestana São Tomé até à ponta de Neves, os picos ao longe, as montanhas, os montes, toda aquela vegetação contrastando com o azul esverdeado do mar. Uau!!!!! Lá no cimo ainda melhor! Apesar de algum cansaço por causa do calor, todos estávamos conscientes da qualidade do que estávamos a observar. Comemos goiabas bem pequenas apanhadas mesmo ali na goiabeira do farol. Como não poderia deixar de ser tirámos muitas fotos e depois disso a descida era inevitável. Na praia aconteceram algumas coisas pouco agradáveis com a chegada de um grupo da Praia Gamboa. Depois seguimos para Micoló, mas antes fomos até á praia Governador para eles conhecerem. Na praia Tamarinos eu, o Clemente e o Élvio demos uns mergulhos. Um espectáculo. A felicidade é tão boa, ainda mais quando partilhada! Em Micoló parámos e fomos comer búzio do mar e beber umas bebidas bem frescas numa daquelas tascas tão boas que nenhum restaurante chique da cidade supera, na minha humilde opinião. Encontrei o Walter com um turista, o Rui - que veio cá duas semanas dar uma formação na EMAE. Juntaram-se a nós e ainda estivemos algum tempo a conversar! Depois fomos para o mar de novo, mais duas paragens no ilhéu, o que não nos agradou e uma num daqueles barcos naufragados que há lá perto! Foi um bom passeio, tendo consciência que terei de lá voltar em breve. O meu coração fica preso nestes sítios, a floresta virgem, a praia deserta, a água transparente são as minhas paixões…é onde estou como peixe no mar!

quarta-feira, 2 de março de 2011

01 Março

Os meses têm passado tão rapidamente que assusta…parece que ainda agora começou o ano e já vamos no inicio do terceiro mês do ano e já estou no Bom Bom há dois meses. Acordo às 6h quando volta a energia neste resort devido ao ar condicionada e a televisão que começam a trabalhar de novo. Ainda é cedo para me levantar da cama. Hoje partia para a cidade para mais uma das minhas missões na ilha do Príncipe. O tempo estava escuro anunciando chuva que acabou por nem cair. Às 7h já estava no portão, aguardando a carrinha do pessoal que me ia levar a cidade. A viagem foi engraçada com o Baba sempre a falar e ainda com o Xandinho a ralhar com uma Sra que o acusava de ladrão…eh eh…chegámos à cidade e ele levou-me logo ao mercado…mas fazer o quê ao mercado? A minha missão era encontrar a Gabriela, mãe de uma menina de 4 anos. E porquê? Porque uma cliente apaixonou-se pela miúda e pensou na possibilidade de dar a essa miúda uma melhor educação e nível de vida. A Gaby (vulgo da Gabriela) ficou espantada com aquilo que eu lhe estava a dizer mas sorriu, agradeceu e disse que ia falar com o marido. Fiquei de passar na próxima semana para saber qual era a resposta e se podíamos andar com isto para a frente. Depois passei na casa do Xéxe e da Olga que ficaram radiantes quando me viram e me deram um grande abraço. São mesmo fofinhos! Lá estivemos um cadinho na conversa e depois parti para os meus afazeres e o Xandinho também…eh eh…passei no banco e depois fui cumprimentar a minha querida amiga Lena que ia para a praia comprar peixe para preparar as refeições dos clientes dela. Então decidi ir com ela e lá fomos à praia esperar uma canoa que vinha lá ao longe. A maré estava vazia, não possibilitando a piroga chegar até nós, então ela teve mesmo que entrar no rio. Ainda conseguimos uns peixinhos jeitosos e fomos para o tasco dela. Encontramos uma sra que eu tinha conhecido logo nas primeiras idas à cidade que nos obrigou a ir a casa dela acompanhar a família e fez questão de me apresentar o marido…eh eh…foi engraçado pois eu estava a dizer que já estava de partida e eles disseram que eu não podia ir, que íamos criar uma empresa de marketing…eh eh…no caminho comprei um tecido africano bem bonitinhoooo…eh eh…depois acabei por ir à procura de doce de coco pela cidade mas parece que ninguém andava a trabalhar nisso…que chatice! Fui à Olga de novo e ela levou-me a casa de uma senhora que, por acaso ainda tinha seis docinhos…trouxe pa mim…huum…adoro este doce do príncipe…por volta das 10h voltei de mota com o Xandinho para o Bom Bom e tive direito a mais uma aulinha de mota! Iupi…até que não é díficil mas arrancar tem sido um problema enorme para mim! Vou sempre abaixo! Ai ai…chegada ao resort estive no quarto até às 12h, depois fui almoçar o típico molho de fogo que a minha Alcinda fofinha preparou com muito carinho e às 13h já estava na minha recepção linda…lol…a tarde correu muito bem, estive bastante ocupada, a malta estava animada e conversadora. O Helder contou-me que há uma espécie de jogo/acordo entre as pessoas de cá. Imaginem, ele faz parte de um grupo de 5 pessoas, entre eles definem uma quantia e todos os meses um deles recebe essa quantia por parte de todos os membros do grupo. Eles chamam a isso o “Chikilá”…eh eh…o que pode ser um pouco perigoso porque se um deles não tem essa quantia num dos meses, o que supostamente iria receber nesse mesmo mês fica a arder…eh eh…eu é que não me metia numa coisa dessas…engraçado que eles fazem acordo com o banco, tendo este que retirar a quantia todos os meses e colocar na conta daquele que deve receber nesse mesmo mês…confuso hein? Por volta das 20h fui até ao restaurante, jantei uma bela salada, estive na conversa com o Thomas, o Joshy e o Amílcar e acabei a noite a jogar a bisca com o Bikini que perdeu os jogos quase todos…eh eh…antes da energia ir, adormeciiii…
A

Holidays at São Tomé...eh eh

17 FeVeReIrO


Acordo às 6h30 com uma dorzinha de cabeça depois do jantar na noite anterior com os clientes que estavam no Bom Bom. O José Carlos tratou-nos muito bem! Tinha decidido ir trabalhar até à hora do voo para São Tomé. Estávamos impacientes para saber a que horas partiríamos rumo à outra ilha, que eu estava desejosa de voltar a ver e os clientes de conhecer. Ainda deu para fazer uma série de coisas na recepção. Também fui ao restaurante tomar uma cafézada matinal. Fiquei lá na conversa com o Ramos e o Atty. De certeza que ia sentir falta daqueles momentinhos descontraídos no restaurante! Por volta das 10h30 saímos do resort em direcção ao aeroporto, já tinham avisado que este iria sair de ST às 10h…iupi! A Michelle, amiga do Thomas, coordenadora do projecto da criação da escola de Belo Monte também ia conosco visto não se estar a sentir muito bem. Claro que ele teve que ir acompanhá-la até ao aeroporto, devia ter medo que lhe fizéssemos mal…eh eh…brincadeirinhaaa…assim que chegamos ao aeroporto fizemos check-in. Acho que ainda não tinha referido que por vezes eles têm que pesar os passageiros tendo em conta a dimensão e capacidade do avião. Então lá me chamaram para me ir pesar numa daquelas balanças que a minha avó usava antigamente para pesar as batatas e outras hortaliças que ela vendia! Sim, daquelas bem antigas com pesos que devem ser regulados para se obter o peso. Eh eh… enquanto esperávamos pelo avião ainda servi de tradutora porque disseram no aeroporto que não havia lugar para a Michelle mas tinha-nos garantido em ST que haveria. Esta gente nem entre ela se entende…ai ai…por pouco senti a minha vida a andar para trás, pensando que eles pediriam o meu lugar para que ela pudesse ser tratada em ST…mas lá conseguimos um lugarzinho falando com o piloto! Passado meia hora já nos encontrávamos no avião rumo à minha ilha predilecta: São Tomé! Olhava pela janela com o pressentimento de que seria a última vez que olhava para aquela paisagem verde quase intocável. A ilha parece bem mais pequena quando se passa por ela, mas quando se vê de cima é maior e temos a sensação que nem habitada é. O Nestor, marido da Ilka, mostrou-me onde era a roça dele – Maria Correia, e prometeu levar-me lá quando ambos regressássemos ao Príncipe. Queria imenso voltar a esta ilha, sinto que ainda ficou muito por descobrir e explorar…fechei os olho enquanto atravessávamos o mar mas sempre à espreita a ver se via um bocado de terra. A aterragem foi calminha, a felicidade invadiu-me por estar a pisar de novo aquela ilha…ninguém me esperava no aeroporto, apenas o motorista do Omali porque a Michelle ia para lá. Acompanhei-a até lá e liguei ao meu motoqueiro para ele passar a buscar-me e assim aproveitava para cumprimentar! NEXT STOP: O-que-del-rei! Quando cheguei a casa percebi que ninguém estava a minha espera, comecei a gritar pela malta e lá apareceu o Humber que mal me cumprimentou...quando a Maggie chegou a casa, senti-a tão fraquinha, via-se que estava com dores! Demos um abraçinho e depois pus me a falar, falar, falar...eh eh...estava à espera de um pouco mais de entusiasmo da parte deles! Entretanto chegou a Gina que me deu alto abracinho, soube tão bem, senti a falta delaaa...sempre disposta a ajudar e animar a malta...enquanto punha a conversa em dia a Maggie estava a aquecer a comida mas acabei por almoçar sozinha...todos desapareceram! Depois do famoso arroz de feijão, do qual já tinha saudades fui ao Bairro do Hospital buscar algumas roupas e aproveitei para cumprimentar a família, fui a Edna e depois casa! Estive na conversa com a Maggie e depois fui buscar o Apolo à carrinha porque ele tinha insistido bastante nisso...depois de tanto tempo estávamos mesmo a precisar de matar saudades um do outro, então decidimos dar uma voltinha pela cidade, conversar, beber uma bitola e depois casaaaa...chegados a o-que-del-rei reparámos que a tasca do Oldair estava aberta e então paramos. È o grande amigo do Apolo lá da zona e desde que fui para o príncipe que ele não aparecia lá...ainda bebemos uns copinhos e depois toca a ir para casa descansar e dormir coladinhos...huum...dia longo muitoé!

A.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

27/2/11 Back to life
Recomeço a escrever após duas semanas dolorosas em que estive com problemas de saúde – infecção urinária e pedra nos rins (esta ainda não saiu…). Não vou contar como foram os meus dias pois não tiveram nada de interessante.
Como diz o ditado “há males que vêm por bem” e neste caso, para além da solidão e dores insuportáveis, reflecti muito sobre o valor da família, amizade e solidariedade. Estar doente fez-me ver este país com outros olhos, não é que eu não soubesse mas foquei-me muito no lado negativo das coisas. Continuando a ser uma apaixonada pelo país, a Natureza da ilha, todo o mar e floresta, toda a floresta e mar, as lindas praias e o clima fantástico, sinto que falta algo essencial que é a capacitação humana. Saúde, educação, cultura, falta de sabedoria por parte dos jovens. Como é possível ir-se a uma clínica e não haver nenhum médico? Ou ir a uma secção de radiologia de um hospital em 2 dias seguidos e não haver um médico durante a manhã? São coisas que desesperam qualquer um, seja de que continente for. Quanto à educação e cultura, deparamo-nos muitas vezes com o desconhecimento de coisas tão óbvias por parte de jovens estudantes, o que só demonstra que o ensino ainda não é (muito) eficiente e que os meios de comunicação/informação não chegam a toda a gente. Além disso, alguém que queira continuar estudos a nível de ensino superior tem de pagar propinas mensais de quase 100 euros. Num país em que um salário médio são 40 euros, quem são aqueles que conseguem pagar? Como dizia um santomense que trabalhou comigo “é muiiiito difícil”. A opção e o desejo de quase todos os jovens santomenses é ir para fora, de preferência Portugal. É raro ouvir alguém dizer que não quer sair do país…
Para além destes factos (salário médio, custos de ensino, etc) acresce-se o elevado custo de vida. Devido à insularidade e consequente importação da maior parte dos produtos alimentares, de higiene, tecnológicos, etc, estes são vendidos a preços bastante altos tendo em conta o nível e condições económicas da maior parte da população. Os preços chegam a ser mais caros do que em Portugal. Por exemplo, um empregado de mesa de um restaurante que ganha 60 euros por mês, se tiver família para sustentar e um transporte para depositar gasóleo, chega a meio do mês praticamente sem dinheiro! Além disso há grande desemprego, vejo pessoas desesperadas, principalmente mulheres/mães que estão em casa com os seus filhos, muitas vezes sem receberem alguma assistência monetária de algum dos pais dessas crianças. É muito triste! Como é que estas famílias (se assim se pode chamar) sobrevivem? Aqui entra uma das maravilhas da ilha, come-se o que a terra dá, principalmente frutos das árvores. Claro que não é suficiente, uma alimentação assim peca por falta de muitos nutrientes e vitaminas considerados essenciais para um bom funcionamento do organismo, o desenvolvimento do cérebro… Apesar de tudo isto, há coisas que nos surpreendem positivamente todos os dias...
Em suma, apesar de todas as maravilhas da ilha, não é fácil viver cá! Há um grande potencial de desenvolvimento, como irá evoluir a situação com a tão falada exploração do petróleo?
Todas estas reflexões levaram a uma grande questão pessoal, abalando um pouco as minhas expectativas e objectivos. No fundo eu sei que as minhas dúvidas vieram com a doença e a doença trouxe uma forte saudade da família, sendo tudo isso que me faz repensar as minhas escolhas. Neste momento estou-me a sentir bem e forte de novo (com apetite J) e as boas energias em relação ao que me rodeia estão a voltar. Já danço sozinha ao som das músicas tradicionais que vêm do quintal do vizinho e já tive vontade de ir para a cozinha perder umas horinhas a cozinhar, o que é bom sinal! Sei que não se desiste de uma batalha por que se teve uma baixa, nem se desiste de uma paixão porque se teve uma briga… E a esperança, como me disse hoje uma vizinha jovem mãe desempregada, é a última a morrer!!

P.S Eu adoro estas ilhas mágicas…

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

10/2/11
O dia começou com um interrogatório matinal de real importância. As conclusões não foram negativas, o que me deu alguma esperança num futuro próximo promissor. Depois segui para a cidade onde encontrei o meu amigo e motoqueiro Celso que me ajudou na tarefa de encontrar alguém que tinha ficado de me contactar para uma conversa de emprego. Não foi difícil encontrá-lo pois em São Tomé toda a gente se conhece. Depois de uma pequena conversa segui para a Aliança Francesa onde fui obter informações sobre a sessão de cinema às 4ªs feiras, o uso da Internet e biblioteca e ainda aproveitei para saber como são os cursos de Francês. Seria bom se vou ficar por cá não perder o contacto com a língua, evoluir e obter um diploma internacional. A boa notícia é que os cursos têm preços muito acessíveis. Fiquei de ir lá na próxima quarta ver o filme e em princípio fazer um cartão de sócio. Estive no Papa Figo a beber um sumo natural de Sape Sape, pois agora com o Café Companhia fechado não há sítios no centro onde façam sumo natural e eu já estava com desejos. Estava um calor infernal com mais de 30º. C pelo que fiquei numa mesa à sombra a escrever, saboreando o sumo e conversando com o Fábio que trabalha lá e o chefe dele. Mais tarde apareceu o meu amigo Helton que me acompanhou ao centro onde eu ia encontrar-me com o Clemente que não apareceu. Parámos na estrada para comprar bula ao senhor simpático conhecido como “o senhor da bula” J Foi bom, a pequena caminhada deu para conversarmos e matar as saudades. Apanhei de novo mota desta vez para a Praia Melão para visitar a querida Minerva que teve um bebe há quase 2 semanas e que já me andava a chamar ingrata… A Gina tinha combinado vir comigo mas não atendeu aos meus telefonemas. Ela estava à minha espera na estrada. Mudou de casa, vive num sítio mais para o interior numa casa bem bonita com um lindo jardim, sem casas à volta, um sítio muito sossegado mesmo. Estava lá o Gerry com um amigo. Fui conhecer o Gersilon, nome que foi o Gerry a escolher que a Minerva nem gosta. Pelos vistos era o nome de um irmão dele que faleceu num acidente quando ele era pequeno. Estive a pôr a conversa em dia com a Minerva que tb estava com uma amiga. Fiquei lá a almoçar, foi muito divertido. Comeu-se bem, bebeu-se um vinho fresquinho e a conversa esteve sempre animada, falando de espíritos, tradições antigas e algumas coisas modernas. Aproveitei para convidá-los para almoçar cá em casa na próxima semana. Mais tarde apareceu a Mimi muito bem acompanhada….mas eu já estava de caminho para casa. Estávamos com muita saudade uma da outra mas vai ter de ficar para outro dia J Fui para casa, onde estive a fazer algumas tarefas. Recebi um telefonema de mau gosto o que me pôs um pouco deprimida… Mas não há nada como ouvir boas palavras de quem nos dá valor para animar um pouco a alma. Obrigada por tudo, amolê mu.

8/2/11

Bom dia,
Hoje tive um dia normal, com uma ida à net e o resto foi passado em casa..
Vou partilhar algumas informações sobre as tradições de São Tomé:


Povô iá Quitembú

"Quitembu é um trabalho em conjunto. Por exemplo, nós somos três ou quatro vizinhos, damo-nos muito bem. Tenho o meu campo, o meu trabalho, construção de uma casa, ou amanhos culturais num determinado terreno ou qualquer coisa parecida. Eu, sozinho, para fazer, leva tempo, dificulta-me... Então criou-se essa forma de quitembu. Eu tenho o meu trabalho: vou ter com o João, o Afonso, o Guilherme e vão todos comigo para o meu trabalho. Todo o mundo virá para o meu trabalho. Se for num domingo, nós somos capazes de o concluir. Então, no outro domingo, iremos para o trabalho de outro amigo, por exemplo do João. Normalmente esse trabalho é feito nos dias de descanso. ... Faz-se muita comida: calulu, nao pode faltar, banana da terra, vinho de palma... Compra-se bebida, trabalha-se e pronto, depois alegremente cada um vai para sua casa satisfeito, com a missão cumprida."

Povô iá quitembu
Sca meçe flá non mantxan
Bamu dêdê cu doçu món
punda é sá cua di téla nón
6/2/11 São Pedro ao rubro
Passámos a manhã em casa. Petiscámos restos da fruta assada e do peixe do dia anterior e fritámos banana e um ovo. Jaca também não podia faltar, pois apareceu o Lulu com um pedaço de jaca para mim. À hora de almoço ligou-se a tv para informação acerca de Portugal e do mundo. Em Portugal a vida não está fácil com tantos desempregados, o custo de vida a subir, assim como o preço do gasóleo e as novas leis do governo. Pelo mundo, catástrofes naturais na Austrália, no Brasil ainda a ressaca do derrube das montanhas e da destruição em massa que se seguiu; as manifestações no Egipto com todo o povo unido pela mesma causa, sem olhar a religiões e outros interesses… A maior parte das notícias costumam ser de índole negativa, o que é uma pena porque tanta coisa boa acontece a toda a hora também. Sou uma pessoa optimista mas mesmo assim às vezes ver um telejornal desmotiva-me. Temos de pensar positivo, ser proactivos perante as dificuldades…
A meio da tarde saímos para ir à festa do São Pedro. A marginal já estava cheia de gente e ainda não eram 17 horas. Fizemos uma caminhada até à praça e aproveitámos para ver como estava o movimento. Muitas pessoas, muitas barraquinhas do lado do mar com comida, bebida e claro, muita música. Estávamos parados num sítio e nunca ouvíamos apenas uma. Havia as discotecas de rua… Do outro lado da rua também muitas vendedoras no passeio a vender todo o tipo de coisas. Estamos na era em que tudo e mais alguma coisa é motivo para se tentar ganhar dinheiro e claro festas religiosas não poderiam ser excepção. Alegria não faltava, que é o que interessa. Depois voltámos e fomos a uma dessas barraquinhas improvisadas, enfeitadas com folhas de bananeira e fruteira. Já lá tínhamos estado na 5ª à noite com o Clemente a jantar e uma das senhoras tinha sido muito porreira e queria lá voltar. Falámos com ela, estava tudo cheio, mas ela disse que nos ia guardar uma mesa assim que alguma ficasse livre. Seguimos pela rua a ver a festa. Comi búzio do mar. Hummm. Depois lá voltámos para jantar, peixe grelhado com fruta pão assada e banana frita acompanhado por um bom vinho tinto. Estava um bom ambiente e estivemos sempre animados. Apareceram algumas pessoas conhecidas e depois o Clemente com um pessoal mas foram comer para outro sítio. Seguimos para a rua e fomos até à barraca onde estava uma tv com o futebol, pois havia um viciado na bola comigo. A boa notícia, independentemente do resultado do jogo, é que lá havia aquelas cervejas africanas bem grandes, de 65 cl. Aproveitámos logo para provar a Cuca, cerveja angolana. Saborosa… Fomos andando e parámos na barraquinha de uns nossos ex colegas do ilhéu, onde estavam o Nino e o Betinho. Lá não havia cerveja quase nenhuma, pelo que continuámos a andar até encontrarmos Bulaué Pastellin de Uba Cabra ao vivo. Ui! Grande espectáculo. Dançou-se de abuso! Foi bastante bom mas depois de ficar um pouco repetitivo, seguimos de novo. Fomos outra vez lá à barraquinha onde encontrámos mais uns conhecidos e uma nova aquisição… Ficámos um pouco por lá à conversa com esse pessoal, depois o Humber encontrou uns amigos e sentámos durante algum tempo. Mais tarde já na correria para ir à casa de banho encontrei as minhas amigas Edna e Lívia que estavam com o Clemente, mas a gente tinha de seguir caminho. Pouco depois, não sem alguma confusão, fomos para casa.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

08 fev

Acordo bem cedinho e parto às 7h para a cidade para uma pequena missão. Eh eh…Fui no carro do pessoal com o Xandinho, um gajo bastante engraçado. Uma pessoa extremamente bem disposta e conversadora (passou o caminho todo a gozar com o pessoal) ...eh eh…ainda parámos no meio do caminho a apanhar umas madeiras que tinham cortado…estava um calor de loucos…conheci uma zona que se chama Azeitona, mas não sei o porquê desse nome até porque não há lá azeitonas. Chegados à cidade o Xandinho leva me directamente a casa da Sra. Olga e do Xéxe. Porque queria eu conhecer estas pessoas, perguntam vocês…bem o filho deles saiu do Príncipe há cerca de 12 anos rumo a Portugal para jogar futebol numa equipa. Entretanto foi gostando e foi ficando até que conheceu a Cláudia, a sua actual namorada, que, por incrível que pareça, mora a 7 km da minha casa e conheço-a desde o 5º ano. Como o mundo é pequeno, como costuma dizer a Cláudia! O Ny, namorado dela, já não vê a mãe desde que foi para Portugal e então ficou combinado eu ir lá filmá-la para ela dar algumas palavras ao seu filho. Assim fiz, estive na conversa com eles um bom bocado, eles foram-me contando a vida deles, eu falei de onde tinha conhecido a Cláudia e a conversa foi rolando. Eh eh…são pessoas bastante simples e simpáticas e já querem encher a minha mala cheia de coisas para entregar ao filho deles. O que acho normal…mas não podiiii…mas levarei tudo o que for do meu alcance. Lá gravamos o videozinho, tirei umas fotos e pimba…bora lá que ainda haviam outras missões para se concretizarem durante esta manhã. Fui até à praça, procurar um motoqueiro para ir à Santa Casa falar com o responsável porque a Nora me pediu para ver se arranjava alojamento para uns voluntários que virão ao Príncipe. Cheguei lá e só estavam duas senhoras, uma delas a responsável mas não a big boss. E não vão acreditar na coincidência, era a mãe das filhas do Pedro comandante do Ilhéu das Rolas. Eh eh…como eu estava cheia de fome perguntei onde poderia comer um pãozinho com manteiga e ela ofereceu-me logo um…eh eh…o espaço é agradável mas estava vazio porque o transporte dos idosos que vão lá passar o dia tinha avariado…eh eh…quando estava a comer o meu pãozinho, apareceu me mais uma senhora que era nem mais nem menos que a irmã do Pedro e cozinheira da Sta Casa. Ainda estive um cadinho na conversa com as senhoras que estavam a cozinhar uma caldeiradinha de peixe…huum…estava com um aspecto delicioso mas eu não poderia ficar, ainda queria comprar umas coisas para mim para levar po Bom Bom. Fui caminhando pela cidade e sempre que encontrava uma pessoa perguntava onde poderia eu comprar doce de coco. É diferente do de SãoTomé e bem saboroso, mas não havia em lado nenhum. Passei no tasco da Lena, uma amiga da Ilka que conheci há uns dias atrás sópara cumprimentar e acabei por ficar a conversar com ela. Também ela estava ocupada com o almoço para os clientes. Fiquei com uma pena de não poder ficar a almoçar mas o dever do trabalho chamava-me. Ela estava a preparar um estufado de polvo com arroz e banana cozida. Estava mesmo calor, eu estava a sentir os meus ombros a arder. Rumei de novo para o centro, fui a um mini mercado e encontrei um das filhas do Pedro…eh eh…a família dele está em alta…eh eh…depois fui à CST e voltei a andar à procura do doce de coco mas a senhora que o fazia nem estava em casa. Triste parei em frente a cst onde tinha ficado combinado o Xandinho me vir buscar e vi uma senhora a vender um doce na rua. Um senhor disse me o nome mas não me recordo. Bem bom…eh eh…já que não havia o que eu queria…enquanto eu esperava, passou um senhor de bicicleta e perguntou-me como estava a saúde e a família, mas logo se apercebeu que me estava a confundir com outra portuguesa que tinha cá estado a dar aulas…eh eh…finalmente a minha boleia chegou…de mota…era mesmo o que eu precisava, sentir o ar fresquinho e puro…chegados a Santa Rita (uma roça abandonada situada a 10 minutos do resort) ele perguntou-me se eu não queria conduzir a mota (eu tinha comentado que queria tirar a carta)… No inicio tive um pouco de receio e disse que não mas ele lá insistiu e eu bora lá…eh eh…foi uma experiência espectacular…eh eh…mas ela era bem pesada, eu estava sempre aos zigue-zagues! O Xandinho é um óptimo professor e já me disse que quando eu quiser que me dá mais umas aulinhas…giro giro foi quando eu já estava mais descontraída e aparece me uma vaca no meio do caminho…ai ai…medoooooooooo…mas ele tranquilizou-me logo…quando chegamos ao Bom Bom o Feliciano (segurança) ficou a olhar para mim…eh eh…aqui eles acham todos que eu sou uma grande maluca…eu gosto é de aceitar desafios e sorrir e rir mesmo quando me apetece chorar…e não há um dia em que não elogiem essa minha maneira de ser aqui no Bom Bom e me pedem para eu ficar mais tempo…e eu também começo a gostar deles e acho que vou sentir a falta deles…afinal agora são a minha família…bem antes de ir trabalhar ainda fui ao restaurante para beber o café matinal que ainda não tinha bebido…e acabei por lá ficar bastante tempo com a minha equipa maravilha na conversa e a prender uns truques de magiaaaa…eh eh…diverti-me imenso…e eles acham que eu sou mesmo totó e que não ia perceber os truques deles…opaaaaaaaaaa…quanto ao resto do meu dia passou-se com normalidade…tirando um episódio bem frustrante…quando eu estava a regressar do jantar apanhei os clientes que tinham ido para a reunião com o Governo e um deles pediu-me por favor para ir com ele à recepção porque ele se tinha esquecido de algo bastante importante. Eu disse que sim, mas antes ele foi jantar e ficou combinado ele bater à porta do meu quarto assim que voltasse…assim o fez mas como ele se tinha demorado mais do que eu estava à espera eu já estava com a camisola do meu pijama e uns calções. Então assim fui até à recepção com ele…quando lá chego vejo o Mark, o next dono do Bom Bom, o primeiro africano a ir a lua, o criador de um programa qualquer…bem, nem queria acreditar…pedi desculpa por estar assim vestida mas parece que ele até achou graça à camisola do meu pijama, tendo comentado…eh eh…é um homem cheio de dinheiro, charmoso mas super acessível…pesquisem na net (Mark Shuttleworth)…eh eh…

A.