quarta-feira, 15 de junho de 2011

15 de Junho 2011


Bom dia,

Deixo aqui algumas informações sobre as tartarugas da ilha do Príncipe. Algumas estão em vias de extinção, existindo quase exclusivamente aqui nesta ilha paradisíaca. Em parceria com algumas instituições desenvolve-se o programa SADA, com o objectivo de proteger uma das espécies que está em mais perigo.


"A fauna marítima é riquíssima em variadíssimas espécies, desde as mais conhecidas, como o atum, o salmonete, o cherne, o carapau, até ao tubarão, ao peixe-voador e à tartaruga, muito utilizados pelos naturais da ilha para a sua alimentação."


TARTARUGAS

Chelonia mydas (nome local: mão branca)



A ilha do Príncipe deverá ter uma população de cerca de 200 a 250 fêmeas adultas reprodutoras que de 3 em 3 anos têm uma época de posturas. São, assim, 80 a 100 fêmeas reprodutoras por ano, e cada uma pode fazer 3 ou 4 posturas durante a época. Em cada postura podem depositar cerca de 110 ovos, que ficam enterrados cerca de dois meses na areia, a incubar. A Praia Grande, a norte da Cidade de Santo António, é uma das preferidas pela mão branca e, por isso, um excelente local para turtle watching. As posturas têm início no mês de Setembro e prolongam-se até ao final de Fevereiro, mas os principais meses são Dezembro e Janeiro.

Simultaneamente, há também uma população numerosa de juvenis neríticos e de sub-adultos. Infelizmente, a incidência de GTFP (green-turtle fibropapillomatosis) começa a ser elevada e atinge exemplares em todos as fases da vida, embora seja particularmente acentuada nas fases juvenil e sub-adulta.

Eretmochelys imbricata (nome local: sada ou tartaruga-de-caco)

A ilha do Príncipe deverá ter, apenas, uma população de cerca de 50 a 60 fêmeas reprodutoras. Consequentemente, não serão mais de 25 a 30 por ano! Cada uma pode fazer 2 ou 3 posturas durante a época, depositando cerca de 130 ovos por postura.

Segundo o SWOT Report III, na época de posturas de 2005-06, foram registadas 36 posturas de E. imbricata, principalmente localizadas nas Praias Margarida, Sundi, Mocotó, Ribeira Izé, Bom-Bom, Stª Rita e Seabra. A época de posturas estende-se de Novembro a Março, sendo Dezembro e Janeiro os dois meses principais.

Para além desta sub-população de fêmeas adultas, que deverá estar nas águas e praias do Príncipe apenas nos meses de acasalamento (Setembro e Outubro) e posturas (Novembro a Fevereiro), existe uma sub-população de machos adultos, que poderá ser residente, e uma outra sub-população mais numerosa, de juvenis neríticos, também residente. Destes últimos podem ser observados, muito próximo à linha de costa e em águas muito pouco profundas, exemplares cujo comprimento da carapaça (CCLmin) pode ser tão pequeno quanto 25.0 cm.

Dermochelys coriacea (nome local: ambulância)

A população reprodutora que usa as praias da ilha do Príncipe é muito diminuta e inconstante. Esta espécie de tartarugas marinhas é pouco “fiel” às suas praias de origem (pouco filopátrica) e as fêmeas reprodutoras que esporadicamente ocorrem devem, de facto, pertencer às grandes rookeries do Gabão e da ilha de Bioko.

Nas águas costeiras, em particular a sul da ilha, encontram-se juvenis desta espécie. É uma situação de excepção, até agora considerada absolutamente única no Mundo, já que o comportamento característico e conhecido pauta-se pela utilização, em exclusivo, de águas oceânicas abertas.


O Programa SADA :


CONSERVAÇÃO SUSTENTÁVEL DA TARTARUGA-DE-PENTE (Eretmochelys imbricata) NA ILHA DO PRÍNCIPE

O Programa SADA é um programa de gestão sustentável de recursos naturais, com características participativas garantidas através do envolvimento de diversos actores sociais.

O recurso natural alvo é a tartaruga-de-pente, localmente chamada de SADA ou tartaruga-de-caco, espécie “Criticamente Ameaçada de Extinção” a nível mundial (IUCN Red List of Threatened Species 2009), e cuja população reprodutora na Ilha do Príncipe é uma das últimas de toda a costa ocidental de África.

As principais populações reprodutoras estão concentradas na América Central (onde a espécie está já a recuperar, depois da adopção de bem sucedidas medidas de protecção). Na costa ocidental de África, as ilhas do Golfo da Guiné (Bioko ou Fernando Pó, Príncipe, São Tomé e Annobón) são o único local conhecido de nidificação, sendo particularmente relevantes o Príncipe e o sul de São Tomé. O cariz de excepção faz com que esta população, geneticamente distinta de todas as outras, seja um património reconhecidamente interessante para a Biodiversidade do Planeta. Segundo o SWOT Report III, na Ilha de Bioko, na época de posturas de 2005-06, foram registadas apenas duas posturas. No Príncipe foram 36 e em São Tomé 38. A época de posturas estende-se de Outubro a Abril, sendo Dezembro e Janeiro os meses principais.

Na Ilha do Príncipe poderá ainda existir uma outra sub-população de E. imbricata, constituída pelos juvenis neríticos que podem ser observados nas águas costeiras, e que provavelmente não têm qualquer associação genética com a sub-população adulta reprodutora acima referida.

Os principais actores sociais envolvidos são as autoridades regionais, os mergulhadores e pescadores, a população escolar (professores e alunos) e os promotores e agentes turísticos.

O Programa SADA é um programa pluri-anual que teve início em Janeiro de 2009. Leva a cabo, em simultâneo, actividades em quatro linhas estratégicas:
o formação técnica
o protecção directa
o conhecimento aprofundado
o divulgação alargada

O Programa SADA é coordenado pelo CBioP – Centro para a Conservação da Biodiversidade da Ilha do Príncipe, um centro internacional de investigação da responsabilidade da Universidade do Algarve, do CCMar – Centro de Ciências do Mar do Algarve e do Governo Regional do Príncipe. O Oceanário de Lisboa, a Universidade do Algarve, o Praia Boi Nature Resort e alguns beneméritos privados contribuem de forma decisiva para o sucesso da iniciativa.


1. FORMAÇÃO TÉCNICA

A linha estratégica de formação técnica tem em vista habilitar pessoas, preferencialmente naturais e/ou residentes na Ilha do Príncipe, com capacidades adequadas para o desempenho de funções nas actividades do próprio Programa SADA ou em actividades complementares.

Exemplos de capacidades técnicas são as da realização de censos de tartarugas marinhas, nas praias ou no mar, da instalação e manutenção de centros de incubação controlada de ovos, do acompanhamento de visitantes em actividades de “turtle watching” e da prestação de serviços a equipas internacionais de investigadores. Estas actividades deverão possibilitar, à população local, a obtenção de receitas económicas; deverão, simultaneamente, criar postos de trabalho, reduzindo progressivamente as necessidades e motivações para a captura, morte e comercialização de tartarugas marinhas.


2. PROTECÇÃO DIRECTA

A linha estratégica de protecção directa tem em vista impedir que continuem a ocorrer mortes desnecessárias de tartaruga-de-pente (bem como tartaruga-verde e -de-couro), em qualquer das suas fases de vida (neonatos, juvenis neríticos, sub-adultos e adultos). Essas mortes são a principal causa do actual estatuto de espécie em risco crítico de extinção, na Ilha do Príncipe (e também em São Tomé).

Exemplos de causas de morte são as capturas voluntárias de exemplares nas águas costeiras, por mergulhadores e pescadores, as capturas de fêmeas reprodutoras nas praias de postura, as pilhagens de ninhos para recolha de ovos, e as capturas involuntárias de exemplares, em diversas artes de pesca. A aprovação de legislação regional e nacional de protecção de tartarugas marinhas, bem como a fiscalização do efectivo cumprimento dessa legislação, é objectivo fundamental da linha estratégica de protecção directa.


3. CONHECIMENTO APROFUNDADO

A linha estratégica de conhecimento aprofundado tem em vista a caracterização e descrição aprofundada da espécie, da sua ecologia, biologia e etologia, da dinâmica demográfica da população, e das particularidades da interacção entre homens e tartarugas marinhas.

Exemplos desta linha estratégica são a execução de projectos específicos de investigação científica e a participação em redes internacionais de intercâmbio de informação, entre especialistas. A avaliação do número actual de fêmeas reprodutoras de SADA que utilizam as praias do Príncipe para fazer posturas, a caracterização genética da linhagem matriarcal, da dinâmica reprodutiva, das rotas migratórias seguidas por fêmeas reprodutoras de SADA e, eventualmente, por machos e imaturos da mesma espécie, são alguns dos temas prioritários de investigação. Outro tema é, necessariamente, o “GTFP – green-turtle fibropapilloma”, em virtude da severidade da doença que se constata na região.


4. DIVULGAÇÃO ALARGADA

A linha estratégica de divulgação alargada tem em vista informar, a níveis local, nacional e internacional, da existência e relevância deste património natural, do seu actual risco crítico de extirpação, da necessidade imperiosa da sua gestão sustentável e das oportunidades que se poderão abrir para a Ilha do Príncipe, e para os seus diversos actores sociais, com a adopção de princípios e práticas de conservação sustentável da SADA.

Exemplos de acções locais são as acções de sensibilização e informação junto da população escolar, dos mergulhadores e pescadores, das forças da autoridade e dos agentes da justiça; exemplos de acções nacionais são a divulgação do Programa SADA na Ilha de São Tomé, tendo em vista a futura expansão. Exemplos de acções internacionais são a criação e manutenção dum “site” próprio, a presença em “webportals” e “sites” temáticos internacionais como o www.seaturtle.org, a participação em reuniões internacionais de especialistas e a promoção internacional da Ilha do Príncipe como destino turístico para “turtle watching”.


ATLAS DE TARTARUGAS MARINHAS NA ILHA DO PRÍNCIPE

A realização do Atlas informativo e detalhado sobre Tartarugas Marinhas na Ilha do Príncipe é um objectivo a prazo. Sintetizará o conhecimento aprofundado que for sendo acumulado, envolverá pessoas tecnicamente formadas pelo Programa SADA, motivará a protecção directa e a valorização do património natural e paisagístico da Ilha e será um suporte-chave para as acções de divulgação alargada.



O Programa SADA é necessário e urgente. Justifica-se a necessidade porque sem o seu lançamento será quase impossível assegurar o futuro da espécie na região. A urgência encontra fundamento na dimensão actual da população nidificante, nas praias do Príncipe, já muito depauperada, com indícios de se aproximar do limite de viabilidade demográfica e ecológica.


in http://tartarugasstomeprincipe.wordpress.com/programa-sada/

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