quarta-feira, 18 de maio de 2011

16/5/11 - Leve leve, leve leve do Príncipe

Após uma semana no Príncipe, escrevo a contar as primeiras impressões.
Por cá tudo tem um ritmo diferente. Estamos a trabalhar e de repente vai-se a energia durante duas horas e meia. Custa a acostumar a tal acontecimento quando já estamos habituados a um certo ritmo de trabalho. Agora por favor imaginem-se a trabalhar, voltam do almoço, continuam o que estavam a fazer e de repente era uma vez a energia, o computador, a internet, o ar condicionado, a televisão… Claro que aqui alguns dos espaços de serviço ao público têm um gerador. Adiante.
Este fim-de-semana fui conhecer o sul da ilha. Estive numa localidade chamada Praia Abade onde as pessoas têm apenas 2 horas de energia por dia pois foi-lhes fornecido um gerador. Como é a comunidade que paga o gasóleo, apenas têm capital para essas 2 horas. Imaginemos então, estas pessoas não têm uma televisão, uma rádio, electrodomésticos, nenhuma das coisas que nós, ocidentais, consideramos básicas numa habitação. Apercebemo-nos também que algumas destas pessoas usam esteiras em vez de camas… Não obstante tais dificuldades e situação económica e social em que vivem estas pessoas, fomos recebidos com um grande sorriso por todos, crianças e adultos. É uma comunidade essencialmente piscatória e encontrámos um senhor a construir uma canoa para a pesca. Estava quase no fim, já estava a colocar os bancos. Era feita de madeira “que vem de fora”, como disse o homem. Ficámos a saber que era pau-rosa, que não existe no país e que é encontrado a boiar na costa ocidental. O senhor tinha demorado 10 dias a construí-la, tudo feito á mão…merecia um prémio pelas condições de trabalho. Andámos a solicitar artesãos por toda a ilha e os poucos (contam-se pelos dedos de uma mão) que encontrámos têm um certo talento mas todos se queixam do mesmo – falta de apoios – para continuar a produzir as suas obras.
A verdade é que esta ilha sofre de dupla insularidade. Vejamos bem quais as riquezas da ilha, a Natureza, a agricultura, um dia será também o turismo. Uma viagem pelo mercado local, uma conversa com algumas pessoas e percebe-se que mesmo a maior parte dos produtos alimentícios frescos vêm da ilha de São Tomé. Como isto é possível numa ilha que é maioritariamente verde logo com enorme potencial para a agricultura? Fomos prosseguindo pelas terras do sul onde as estradas não se comparam em qualidade com as do norte da ilha. Estas pelo menos não têm muitos buracos, enquanto as do norte são completos caminhos de cabras, lembram caminhos no meio do mato levemente trilhados pela passagem das pessoas. Aproveitámos a boleia do dono da Pensão Palhota na recolha de assinaturas para uma candidatura à Presidência da República. A adesão das pessoas foi total… parece que todos estão a precisar de alguém que realmente imponha algum respeito e autoridade… Foi bom para conhecer a ilha, fomos até ao Terreiro Velho, e passámos na entrada onde o sr. Corallo tem os terrenos com produção de café e cacau. Estivemos a conversar com as crianças e no caminho ainda parámos e vimos uma bela paisagem sobre o mar com o ilhéu boné de Joker a surgir majestosamente no oceano. Fomos também a Porto Real onde conversámos com um artesão que trabalha a madeira e depois ainda fomos a Pinquete, onde fomos premiados com uma bela vista sobre a cidade de Santo António e com um grupo de crianças sorridentes e simpáticas que ficaram maravilhadas com as fotografias. Este fim-de-semana ainda tive a oportunidade de conhecer a Praia Macaco, na costa ocidental a norte de Santo António que tem os piores acessos que já vi em toda a minha vida. Bem, a praia é maravilhosa, paradisíaca, perfeita. O mar estava um pouco agitado mas foi muito bom poder estar a desfrutar daquela maravilha da Natureza. Ainda bebemos umas dáuas bem frescas! Algo que é muito bonito aqui e diferencia-se em relação a São Tomé são as casas e os jardins fora da cidade. Há grandes sebes que delimitam os terrenos das casas e vão seguindo por quase todas as povoações da ilha. Os jardins estão arranjados com uma espécie de relva que deve ser típica de cá que fica mesmo bonita.
Já conheci duas portuguesas que cá estão a trabalhar na cidade, uma como professora outra é da área social. Também convivo diariamente na Palhota com dois militares de São Tomé que estão cá em missão de serviço. Em relação à minha bagagem que ficou em São Tomé, a minha salvação foi o Ia, filho do sr. Alex, que mandou mercadoria pelo barco que vem de São Tomé e deixou que a caixa com as minhas coisas viesse também!
De resto os dias da semana vão passando em trabalho e são muito idênticos. Começo a entrar numa rotina…

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