segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

27/2/11 Back to life
Recomeço a escrever após duas semanas dolorosas em que estive com problemas de saúde – infecção urinária e pedra nos rins (esta ainda não saiu…). Não vou contar como foram os meus dias pois não tiveram nada de interessante.
Como diz o ditado “há males que vêm por bem” e neste caso, para além da solidão e dores insuportáveis, reflecti muito sobre o valor da família, amizade e solidariedade. Estar doente fez-me ver este país com outros olhos, não é que eu não soubesse mas foquei-me muito no lado negativo das coisas. Continuando a ser uma apaixonada pelo país, a Natureza da ilha, todo o mar e floresta, toda a floresta e mar, as lindas praias e o clima fantástico, sinto que falta algo essencial que é a capacitação humana. Saúde, educação, cultura, falta de sabedoria por parte dos jovens. Como é possível ir-se a uma clínica e não haver nenhum médico? Ou ir a uma secção de radiologia de um hospital em 2 dias seguidos e não haver um médico durante a manhã? São coisas que desesperam qualquer um, seja de que continente for. Quanto à educação e cultura, deparamo-nos muitas vezes com o desconhecimento de coisas tão óbvias por parte de jovens estudantes, o que só demonstra que o ensino ainda não é (muito) eficiente e que os meios de comunicação/informação não chegam a toda a gente. Além disso, alguém que queira continuar estudos a nível de ensino superior tem de pagar propinas mensais de quase 100 euros. Num país em que um salário médio são 40 euros, quem são aqueles que conseguem pagar? Como dizia um santomense que trabalhou comigo “é muiiiito difícil”. A opção e o desejo de quase todos os jovens santomenses é ir para fora, de preferência Portugal. É raro ouvir alguém dizer que não quer sair do país…
Para além destes factos (salário médio, custos de ensino, etc) acresce-se o elevado custo de vida. Devido à insularidade e consequente importação da maior parte dos produtos alimentares, de higiene, tecnológicos, etc, estes são vendidos a preços bastante altos tendo em conta o nível e condições económicas da maior parte da população. Os preços chegam a ser mais caros do que em Portugal. Por exemplo, um empregado de mesa de um restaurante que ganha 60 euros por mês, se tiver família para sustentar e um transporte para depositar gasóleo, chega a meio do mês praticamente sem dinheiro! Além disso há grande desemprego, vejo pessoas desesperadas, principalmente mulheres/mães que estão em casa com os seus filhos, muitas vezes sem receberem alguma assistência monetária de algum dos pais dessas crianças. É muito triste! Como é que estas famílias (se assim se pode chamar) sobrevivem? Aqui entra uma das maravilhas da ilha, come-se o que a terra dá, principalmente frutos das árvores. Claro que não é suficiente, uma alimentação assim peca por falta de muitos nutrientes e vitaminas considerados essenciais para um bom funcionamento do organismo, o desenvolvimento do cérebro… Apesar de tudo isto, há coisas que nos surpreendem positivamente todos os dias...
Em suma, apesar de todas as maravilhas da ilha, não é fácil viver cá! Há um grande potencial de desenvolvimento, como irá evoluir a situação com a tão falada exploração do petróleo?
Todas estas reflexões levaram a uma grande questão pessoal, abalando um pouco as minhas expectativas e objectivos. No fundo eu sei que as minhas dúvidas vieram com a doença e a doença trouxe uma forte saudade da família, sendo tudo isso que me faz repensar as minhas escolhas. Neste momento estou-me a sentir bem e forte de novo (com apetite J) e as boas energias em relação ao que me rodeia estão a voltar. Já danço sozinha ao som das músicas tradicionais que vêm do quintal do vizinho e já tive vontade de ir para a cozinha perder umas horinhas a cozinhar, o que é bom sinal! Sei que não se desiste de uma batalha por que se teve uma baixa, nem se desiste de uma paixão porque se teve uma briga… E a esperança, como me disse hoje uma vizinha jovem mãe desempregada, é a última a morrer!!

P.S Eu adoro estas ilhas mágicas…

1 comentário:

  1. Ola amiga,

    também me puseste a pensar sobre as minhas vontades e se realmente valia a pena tudo isto...esta solidão nesta ilha (linda tbm)...mas quem somos nós longe daqueles que amamos?como podemos alcançar assim a felicidade? sinto falta tbm da minha familia e sinto falta de ti...e ver te em baixo não foi facil, era aquela pessoa que me punha sempre um sorriso quando me apetecia chorar...tenho estado aqui a lutar para não ficar doida, há dias que não há cliente, há dias que fico a falar sozinha a partir das 16h...e utilizando apenas o meu pc para me manter ligada ao mundo...já falta pouco para podermos abraçarmos os nossos...e as dúvidas em relação ao regresso permanecem...só se eu for doida para voltar paqui e lutar por aquilo que me tem deixado tanto em baixo...porque apesar de tudo eu amo aquele homem mas não sei se sou capaz...

    adoro te...

    (puseste me a chorar) - sinto a tua falta e da tua energiaaaa

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