terça-feira, 22 de março de 2011

16/03/11
Para este dia tínhamos planeado ir conhecer algumas roças do norte da ilha. A manhã estava fresca com um ventinho a soprar agradavelmente. Encontrei-me com a Susana em plena Praça da Independência depois de ambas despacharmos os nossos assuntos pendentes. Liguei ao meu motoqueiro dos passeios, o Mr. Pik, para termos uma pequena aventura a meio da semana. Depois de estabelecermos um bom preço (amigos são para as ocasiões) o Pik foi até ao bairro do hospital buscar outro motoqueiro porreiro. Pelos vistos não foi fácil porque todos pediam mais de 150 mil dobras e o preço estabelecido tinha sido metade desse valor! Lá voltou com um Gualter e lá partimos, primeiro rumo à Bela Vista. No caminho para lá ainda consegui tirar umas fotos à Susana na mota, o que é sempre mt divertido de se fazer! Mais uma vez a paisagem verdejante a rodear a estrada…apenas algumas casinhas a quebrar o ritmo dos cacaueiros, bananeiras, fruteiras e outras árvores maiores! Em Bela Vista fomos ver o cacau a secar, que desta vez tinham disposto em estufas… Estava um cheiro muito mais intenso do que normalmente! Forte de mais que até enjoava! Continuamos a visita pela Roça, passamos pela creche e a educadora veio cumprimentar-nos à porta, onde levou dois miúdos a fazer xixi mesmo à entrada da escola…Viraram-se um para o outro e baixaram as calças…Claro que nós ficamos as duas a olhar um pouco chocadas! Fomos ver outros edifícios onde guardavam as ferramentas e tivemos de aturar um senhor um pouquinho doido que nos perguntou se não tínhamos medo de estar em África…ao que obviamente respondemos que não. E ele a insistir falando de elefantes e cobras, dizendo que se fosse para a nossa terra também ia sentir medo! Bem, lá escapamos à conversa mesmo a tempo de os motoqueiros nos encontrarem. Fomos conhecer a sanzala! Aquela já não tem o formato original em forma de quadrado com os tanques no meio…Muitas construções “modernas” feitas de madeira encontram-se no meio. Eles queriam beber o vinho de palma que estava à porta de uma tasquinha, supostamente bem fresco apesar de exposto ao sol mas a senhora que vendia não estava em parte nenhuma. Fomos seguindo e cumprimentando as pessoas com as criancinhas todas a virem atrás de nós… Parámos numa casa onde tinham feito uma estrutura para secar roupa ao sol. Dois troncos na vertical, espetados no chão e ao meio na horizontal uns três troncos! Estava bem feito, artesanal mas fixe! Ficamos a tirar fotos quando as senhoras da casa em frente nos chamaram para tirar foto a um bebe de poucos meses muito clarinho. Depois conhecemos a irmã dele, ocossô, albina. A miúda era bem bonita com um cabelo loirinho todo entrançado, com as trancinhas espetadas no ar! Muito fofinha! As senhoras eram bem simpáticas, sem problemas por estarmos a tirar fotos. Estavam a escolher a izaquente que iam cozinhar ao jantar, izaquente de azeite! Ainda perguntei se iam vender ou se fariam ao almoço para passar lá para comer. Estou com desejos de izaquente! Pelos vistos o Pik foi cozinheiro no ilhéu e já se estava a oferecer para fazer para mim! Heheh.
Depois de umas fotos com as crianças seguimos nas motas para a próxima paragem, Boa Entrada! O nome diz tudo!! Uau! Nunca vi uma Roça tão bonita! Deve ter sido certamente uma das Roças mais importantes ou então pertencia a um dos administradores mais ricos! A casa principal era um autêntico palácio, mas que pena tão mal conservada a cair aos bocados, como quase todas as casas coloniais das roças! Fiquei pasmada, imaginando a beleza daqueles edifícios noutra época, antes do 25 de Abril, por outro lado, a Susana ficou triste imaginando o desperdício! As crianças da roça vieram logo receber-nos com os habituais “amiga, branco, branca tira foto”. Levaram-nos a conhecer a chota, que não estávamos a perceber o que era. Entramos na casa e percebemos que falavam do sótão! Sinceramente a casa deve ter sido um espectáculo, o que eu dava para retroceder no tempo e viver um dia naquela época para poder ter noção de tudo! Vidros partidos, azulejos retirados, muito vandalismo! Mas por outro lado marcas da riqueza da casa, boas portas, banheiras nas casas de banho, suites, lareiras, marcas de candelabros, chão ainda com ornamentação e melhor que tudo Elevador!!! Que espectáculo! Montes de quartos e lá em cima o sótão, com o telhado ainda em bom estado, apenas com o chão com alguns buracos. Denota-se a arquitectura bem pensada da casa – uma boa construção! Depois apareceu o suposto guarda da casa que vinha com uma pedra na mão, um velhote desdentado todo chateado por não termos pedido permissão! A casa assim a cair aos pedaços e ele está a guardar o quê, perguntamos nós. Só se for um dos compartimentos que serve para a realização das sessões da Igreja Maná… que grande desperdício! Fugimos do senhor e fomos conhecer as outras casas dos portugueses que trabalhavam na Roça. Deviam ter sido boas casas, mas agora todas descaracterizadas ou esburacadas com cada família a ocupar o seu quartinho! Em frente a essas casas há a escola primária da Roça e foi aí que reparámos nos dois pilares que antigamente suportavam os portões da Roça, ao fundo da estrada. Virámo-nos para o palacete e então é que vimos a frente da casa! Que luxo!! Para além disso, o que mais me surpreendeu foi a beleza das casas da sanzala… Todas seguidinhas em várias filas divididas por ruas, com um telhado em bico, todas iguais, terminando com um monte ao fundo! Muito bonito, a mais bonita que já vi, sinceramente! Apesar da fome já se fazer sentir (e que 4 se juntaram) ainda tínhamos mais uma roça para conhecer, Monte Macaco! Finalmente ia conhecer a roça que o meu tio-avô conhecera há mais de 35 anos! Tinha de fazer isso por ele e pela minha curiosidade também! Bom, depois de se ir a Boa Entrada qualquer outra roça já não surpreende! Então Monte Macaco é bem pequeninho! Arranjámos uma guia, uma senhora que tinha trabalhado na roça enquanto esta ainda funcionava! A senhora, de origem cabo-verdiana, bem simpática, explicou-nos que a sede era em Boa Entrada e que esta era uma dependência mas que depois do 25 de Abril a sede passara a ser Bela Vista, o que nós estranhamos um pouco! Foi-nos mostrar a sanzala e esta já tinha os tanques ao meio rodeados pelas casas! Contornámos o sítio sempre com as crianças atrás de nós todas divertidas! Passámos pela entrada de uma casa onde estavam sentadas uma senhora mais velha com mais duas raparigas, uma delas carregando um bebe bem pequeno. A senhora mais velha chamou-me perguntando se eu já estava em São Tomé há algum tempo ao que eu respondi que sim. Ela disse que alguém me estava a reconhecer… E eu disse “ahh” e bazei! Nem quis saber de onde mas ela também não pareceu muito entusiasmada para falar mais! Subimos pras motas já a pensar no almoço…nós na comida, eles nas bitolas. No caminho parámos num bar com bom aspecto que ficava na estrada rodeado de mato chamado “loja Europa”. Ainda comprei umas hortaliças a um preço bem mais barato que na cidade. Pelos vistos estávamos em Maianço, mais uma zona! A paragem foi para beber uma cerveja cada um e para o Gualter cumprimentar familiares! Hehe. É impressionante como têm família em todo o lado! Ainda tive uma conversa sobre o machismo em São Tomé com um polícia que tinha ido lá comprar grades de Rosema! Veio com uma mulher, ela é que teve de carregar as grades todas para dentro da carrinha. Todos os homens estavam a olhar…por acaso o Pik conhecia a moça e começou a ajudá-la, ainda por cima estava um sol arrasador! O ar fresco que sentíramos lá nas Roças tinha desaparecido! Depois disso queríamos almoçar mas os sítios onde fomos averiguar em Santo Amaro eram caros… Então virámos em direcção a Conde. Não é que fomos parar ao mercado local onde até fomos bastante bem recebidos! Ahaha. Foi de rir. Primeiro arranjaram-nos uma mesa minúscula…A Susana sentou-se num mocho e ficou mt cómica, mesmo assim ficava bem alta! Havia pintado com peixe voador cozido! Mas desta vez o pintado era especial, com coco! Uma maravilha, na minha opinião de gulosa! A conversa foi animada com os rapazes a contarem as peripécias deles, o prejuízo de levarem mulheres na mota, as aventuras, as partilhas… Para eles é normal a partilha, segundo o Pik há para todos “um cadinho para mim, um cadinho para ti, um cadinho para ele.” Ali entre nós, as duas pensámos “mas que nojo.” Há quem responda que é a cultura, outros que é o calor, para nós não é nada bonito! Mas se elas se prestam a isso, não se importam, o mal é delas! Sinceramente já nem digo que o pior é o homem, pois vejo cada uma, ouço cada história que já estão os dois no mesmo patamar! Claro que não podemos esquecer que há sempre excepções! No fim a moça que vendia a comida já queria aumentar o preço para 25mil (sabe-se lá porquê) mas foi contra-argumentado e como não poderia deixar de ser a gente conseguiu o que queria! Comigo e com a Susana podem se meter mas não têm muita sorte!! Depois de um safu como sobremesa (lol) seguimos para a cidade pois queríamos ir à inauguração de um novo espaço para a qual tínhamos sido convidadas pelo vizinho simpático, o sr. Carlos e tb pelo Betinho. Mas, infelizmente, não demos com o sítio! Tanto eu como ela que tínhamos visto o sítio com o senhor não o conseguimos encontrar… Foi muito mau, tive a sensação que aquele sítio tinha sido engolido pelo espaço! Que fantasiosa! Bom, vimos uma senhora a vender banana assada em frente ao IDF, ainda íamos comprar mas esta abusou no preço só porque a gente tem outra cor. Que lata, a pedir 10mil quando é sempre 5! Não comprámos e bazámos para as respectivas casas! Foi um bom passeio!

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