domingo, 9 de janeiro de 2011

06/01/2011

Acordei com dores de cabeça. Tinha febre de certeza. Estava com frio. Com muita pena e esforço, tive de me levantar antes das 7horas pois tinha uma reunião marcada com os sócios da agência de viagens na qual vou começar a trabalhar. Encontro no café Avenida. Apresentações. Conversa sobre a empresa. Objectivos. Meios de facturação e receitas. Algumas ideias. Tarefas a realizar a curto-prazo. Depois algo entusiasmados partimos para o Bairro português para pôr a conversa em prática. Trabalhar um pouco até me ia fazer bem se a minha cabeça não parecesse que ia explodir e a minha ferida no joelho não estivesse sempre a latejar de dor… Fizemos algumas coisas, o que já não é mau. Não aguentava mais de dores e com suores frios, fui para casa num Benjamim. Hehehe. Em casa o almoço foi uma mistela, banana frita e millet com legumes cozidos. A Alex ligou-me, falámos e ela aconselhou-me a ir ao hospital. “Here we go”…pensei. Liguei à Gina para ir comigo e fui encontrá-la na casa da Edna. Entrámos no hospital, uma aventura. Não é que não há ninguém a atender as pessoas, uma recepção?! Entras e se conheces alguém, enfermeiro ou médico, vais simplesmente entrando por todas as salas e quartos à procura dessa pessoa. Foi o que a Gina fez. Não encontrou o tal enfermeiro e estava a insistir para eu ir picar o dedo…ver o paludismo... Insisti que não era necessário! O que eu queria era um curativo na minha ferida que por esta altura estava a soltar um pus muito feio pela minha perna abaixo. A Gina aparece após uns 5minutos sem novidades. “Então não há nenhum enfermeiro?”, pergunto eu. Ela responde que sim, tem duas lá dentro numa sala. Já furiosa entro lá para dentro, tentando não cheirar o intenso odor a infecção que corre pelos espaços interiores e exteriores deste hospital, Ayres de Menezes. Um labirinto…” e se me sinto mal como volto pra trás???” Whatever. Vamos ao que interessa. Espreito as enfermeiras. Uma dorme sentada numa cadeira, a outra está sentada à secretária (que nem doutora) olhando as suas unhas… Entro a matar.. Pelos vistos os curativos só se fazem de manhã e tenho de ir ao posto lá no centro da cidade… e aqui só urgências. Então “estou cheia de dores, já não consigo andar direito e está a deitar este pus sem parar…” Ficam as 2 a olhar para mim com cara de quem nada pode fazer. Reviro os olhos, suspiro e faço 1 cara…”então pode me arranjar um pouco de betadine apenas para eu pôr na ferida??” Pimba a dorminhoca lá se levanta e vai-me fazer o curativo. Doeu-me bastante, escarafunchou aquilo tudo, foi pus, sangue, até pele. Modos um pouco estranhos. Bom, saímos sem nada pagar sem dizer nada a ninguém, exceptuando o meu nome e idade a uma senhora que apontou num caderno de linhas. Ainda mais estranho, e só me dei conta quando já ia na mota em direcção a casa. Chegada a casa, nem 10 minutos depois do curativo pronto, pimba, cai-me. Fiquei furiosa… Parece impossível!! Deitei-me no sofá e fiquei a ler uma compilação de entrevistas a escritores santomenses. Hoje era Olinda Beja de quem eu já conhecia uns lindos versos:

Eu quero continuar a procurar-me

Na orla infinita das praias e das gentes

Nas roças salpicadas de café e até

Na ousadia intemporal dos corpos que por mim chamam ao passar”

Ela escreveu um livro chamado Págá Dêvê. O págá dêvê é uma tradição santomense que consiste em ir ao rio ou ao mar, muitas vezes com um curandeiro, em que se atiram flores e comidas e pede-se saúde para a criança que nasceu. A autora soube que a mãe dela fez isso quando ela nasceu. Diz-se que todas as pessoas devem fazer isso para serem felizes, para pagarem o dever… Parece que é um ritual muito bonito. Gostava de o presenciar.

“Acordei do livro” com alguém a bater no portão, era a Gina que veio “acompanhar-me”. Ficámos a ouvir música e ver fotos e depois estivemos a ler o “Diário da Nossa Paixão”. Estou a tentar criar nela o bichinho da leitura. Por enquanto leve leve. Dei-lhe o livro para ler mas ela não andou para a frente. Então decidimos ler juntas. Leu um capítulo, fomos vendo o que significava frase a frase. Comecei a ler outro capítulo. Vamos indo e vamos vendo… a esperança é a última a morrer e quando há vontade tudo se alcança…

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