quarta-feira, 13 de outubro de 2010

10-10-10

Dia único na vida. Só acontecerá uma vez.
Deitámo-nos ao som da música que toca no Sobi-Só, discoteca situada em frente à nossa casa, no Bairro do Hospital. Aqui em São Tomé ter música a tocar é quase obrigatório. A toda a hora se ouve música. Acordamos de manhã ao som de kizomba, kuduro, bulawé e até romântica. Depende de quem põe. Ao início era um pouco chato, mas já nos habituámos.
Fomos apanhar água. A Gina apanha água e leva balde na cabeça desde os 5 anos. Hoje transporta um balde de 25 litros. Nós levamos dois “bules” cada – garrafão de 5 litros. Fomos buscar a água a casa da Mulata, onde há uma torneira caindo água “boa”. Não fica muito longe da nossa casa. Demora um pouco a encher os baldes. A Susy, de 12 anos, prima da Gina, também veio connosco e transporta um balde de 15 litros. No quintal da casa havia uma fruteira com fruta-pão ainda pequena e um limoeiro com limões do tamanho de uma bola de pingue-pongue verdes, mas aqui são colhidos e usados assim. Fomos lá três vezes. Abastecemos água para a casa de banho, banho, lavar dentes e mãos, descarregar água; para lavar loiça, para cozinhar. Daqui a um/dois dias iremos de novo. Experimentámos pôr a urdilha (pano enrolado que põem na cabeça para equilibrar o balde) e o balde na cabeça e conseguimos ficar sem tirar a mão uns escassos segundos. Todos os dias experimentaremos de novo até conseguirmos levar até casa. As pessoas já nos dizem outra vez “estas aqui já são saotomenses”.
Neste dia descobrimos muita coisa, aprendemos outras tantas. O mais importante foi a verdadeira amizade e a certeza que não poderíamos ter ficado numa casa melhor do que esta. Quintal de mulheres fortes, alegres, lutadoras, felizes. O coração é grande, o nosso também e recebe muito a cada minuto que passa. Reencontrámos velhos amigos, pessoas inteligentes que têm tudo para brilhar, mas São Tomé ainda está no início… Queremos contribuir com o que temos cá dentro enquanto podemos.
Também as crianças, os seus sorrisos, seus caprichos, seus abraços, seus gritos, suas palavras, são o nosso quotidiano. A dança também, reparámos todos os dias como o ritmo nasce com elas no corpo.
Fomos até ao mercado, que hoje, por ser domingo e dia de limpeza, foi na rua, numa praça da marginal. À chegada deparámo-nos com uma coisa engraçada, numa parede dizia, escrito à mão em branco: “Proibido urinar” e logo virado para a parede estava um homem a urinar…..
Por entre muita oferta, odores nem sempre estimulantes, cores garridas e muita gente a gritar para “as brancas” levarem isto e aquilo, escolhemos barriga de peixe andala, batata doce, cenouras, feijão verde, cebola e alhos. Ao almoço preparámos um banquete – peixe andala grelhado, batata doce e feijão verde cozido. Estava uma delícia, acompanhado de molho de malagueta e oléo de palma. Demos tb a provar castanhas assadas que trouxe de Portugal. Tudo isto foi feito no fogão a carvão, regado a petróleo.
No caminho para apanhar o táxi, mesmo em frente ao hospital, uma mulher disse para nós, enquanto eu e a Gina passávamos: “Gina agora vive com branca”. Rimo-nos muito as duas e a Gina diz “ Só a cor é diferente, mais nada…” M

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